Amores imperiais terão seu protagonista, na segunda metade do século XIX, num homem jovem e bonito, apesar da gordura que começava a se espalhar. Alto, de feições severas, modos lentos, tinha um par de olhos azuis como contas, afundados num rosto muito branco. Mais ouvia do que falava, e dele emanava um sentimento de desconfiança em relação ao interlocutor. Para uma vida completa, bastava, segundo ele, “alimentar os sentimentos do coração e os pensamentos do espírito”.
Os primeiros, aliás, já tinham sido largamente exercitados. Não com a gorda e feiosa esposa, a princesa italiana Teresa Cristina. Mas com outras mulheres. O jovem que inicialmente as evitava tinha ficado para trás. Quando menino, mais parecia um sacristão, e não escapou dos comentários maledicentes de inúmeros diplomatas, que o acusavam de fugir das mulheres. Adulto, depois que se tornou pai de quatro filhos, tinha algo de conquistador romântico. Pois, já casado, não escreveu ao primo Fernando de Portugal que buscava uma alma gêmea? Tentou encontrá-la, inicialmente em Maria Eugênia Lopes de Paiva, sua primeira paixão, um ano mais jovem do que ele e filha do barão de Maranguape. Segundo um contemporâneo de Pedro II, ela era encantadora, tinha um olhar açucarado e foi a primeira a servir sorvetes nas reuniões que organizava.
Depois houve um caso com Carolina Bregaro, casada com um bastardo de D. Pedro I, em cuja porta o imperador foi surpreendido certa noite. Contudo, procurava ser ostensivamente correto, preservando a imperatriz e as filhas, Isabel e Leopoldina, de qualquer escândalo com prudência e moderação. Nada de “favoritas” inspiradas nos amores escabrosos de seu pai. Mesmo com todos esses cuidados, D. Pedro II não foi insensível à chegada de uma mulher cuja fama de “maravilhosa” era conhecida até na França: Luísa Portugal e Barros, a condessa de Barral, dama de companhia de suas filhas. Ela era miúda, tivera problemas de dentes e estava com 40 anos. Mas tinha uma cabeleira negra que o romantismo elegeu como a cor de suas heroínas, e um par de olhos de veludo. Ela tinha graça, o gesto fino, o espírito vivo, e mais: era uma verdadeira coquette. Seria ela a “alma gêmea”?(...)
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Um imperador romântico
Mary Del Priore