São três décadas de pedras gigantes rolando, serpentes venenosas por todos os lados e perseguições em alta velocidade. O aniversário de Indiana Jones está sendo comemorado em uma megaexposição que roda Canadá, Europa e Ásia. Enquanto isso, fora das telonas, os arqueólogos levam uma vida bem menos agitada, mas, de certa forma, próxima do cinema. Os festivais de arqueologia ganham cada vez mais importância, principalmente nos Estados Unidos e na Europa. Aqui no Brasil, a iniciativa ainda é tímida, mas vem crescendo nos últimos anos.
O principal exemplo é a Mostra Audiovisual Internacional em Arqueologia (Maia), que aconteceu este ano junto com a segunda edição da Semana de Arqueologia da USP. “É a primeira vez que um evento do tipo acontece do Brasil. Um dos nossos objetivos é mapear as produções brasileiras, porque não sabemos onde estão sendo filmadas, e nem se está sendo feita alguma coisa”, explica Silvio Luiz Cordeiro, diretor da Maia.
Segundo Cordeiro, enquanto a maioria das produções estrangeiras é voltada para a televisão, aqui no Brasil o trabalho ainda é em grande parte amador. Djair Filho, geógrafo e guia de turismo, é um desses iniciantes na sétima arte. Nascido na região do Cariri, na Paraíba, ele fez o documentário “Vestígios pré-Históricos no Cariri paraibano” com o amigo Vinicius de Souza Melo, engenheiro. “Fizemos o filme para divulgar as riquezas arqueológicas da região e o descaso com elas. Não tem fiscalização, qualquer um pode entrar e tocar nas pinturas rupestres”, conta Filho.
O plano é que a Maia seja ampliada nos próximos anos. Além de reunir mais participantes, ela deve começar a distribuir prêmios e talvez até ser levada a outros locais, como centros culturais. É uma boa notícia para quem acredita na aliança entre cinema e arqueologia. “Aqui no Brasil não é comum essa produção de documentários. Mas já existe a perspectiva de que eles são necessários. São uma das formas mais interessantes para se divulgar pesquisas arqueológicas”, afirma Carlos Magno Guimarães, arqueólogo da UFMG.
Apesar de não divulgar diretamente nenhuma pesquisa e de passar uma imagem um tanto fantasiosa da arqueologia, o cinema de ficção também tem lá seus pontos positivos. Para Guimarães, esse tipo de produção pode ser interessante também para se discutir a visão de arqueologia transmitida pela arte: “Indiana Jones, por exemplo, não é arqueólogo. Ele não tem a perspectiva do trabalho acadêmico, explode um sítio inteiro só para conseguir uma peça. Mas mesmo assim é uma forma de divulgação. Com certeza algumas pessoas decidiram fazer arqueologia por causa dele”.
Nas pistas do cinema
Cristina Romanelli