Os avanços trabalhistas dos anos 1930 foram comemorados e são facilmente associados ao governo do presidente Getúlio Vargas, que os consagrou. Entretanto, muitas dessas conquistas eram anseios antigos da população, e brotaram também a partir das experiências que os imigrantes italianos trouxeram para o Brasil.
Eles vieram em grande número. As fábricas e oficinas de São Paulo tinham em seu quadro de funcionários quase 80% de italianos em 1900. Doze anos depois, esses trabalhadores ainda compunham 60% dos operários da indústria têxtil do estado, constituindo boa parte da mão de obra urbana tanto na capital quanto no interior. Da Itália, eles trouxeram a organização em grupos de ação política e sindical, ou ajudaram a fundar no Brasil essas agremiações com outros imigrantes e brasileiros. Onde os italianos eram maioria, como nas cidades paulistas – com exceção de Santos –, o movimento operário organizado era fortemente caracterizado por eles.
A imprensa operária que circulava no estado foi escrita sobretudo em italiano até o início dos anos 1920. Um exemplo é o jornal Avanti!, principal periódico socialista no Brasil e único jornal operário do país com edição diária, de 1902 a 1908.
Assim como ocorria na terra natal, os trabalhadores se agregavam em grupos políticos de várias tendências. Os socialistas estavam ligados ao movimento social-democrata, coordenado pela Associação Internacional dos Trabalhadores, a Segunda Internacional. Acreditavam na integração da ação política de partidos operários com a atividade econômica cooperativa e de confronto entre patrões e empregados por meio dos sindicatos. Além disso, promoviam manifestações, práticas educativas e culturais em associações políticas, de ensino e lazer.
Também os anarquistas atuaram valendo-se de jornais e na área da cultura, participavam do movimento operário nos momentos de radicalização do conflito de classe, como as greves, embora, em geral, fossem críticos dos sindicatos e das greves parciais e a favor da ação direta dos trabalhadores. Entre 1904 e 1912, publicaram semanalmente aquele que foi considerado o principal jornal libertário no Brasil, La Battaglia, editado em São Paulo e distribuído em todo o país.
Mas esses grupos não eram a maior força. Desde 1904 até o fim da Primeira República, a principal tendência entre os trabalhadores italianos foi o Sindicalismo Revolucionário, que unia elementos do socialismo e do anarquismo. Seus expoentes acreditavam na organização sindical estruturada e nas greves parciais com conquistas moderadas, porém relevantes para o dia a dia do trabalhador. Ao mesmo tempo, tinham como objetivo final a greve geral revolucionária, que teria iniciado uma sociedade socialista fundada nos sindicatos.
Outro reforço importante eram as associações de socorro mútuo. Integradas principalmente por artesãos e operários qualificados, forneciam ajuda aos seus sócios em casos de doença e aposentadoria. Promoviam encontros, comemorações, cursos educativos e apoio a manifestações sindicais.
E foi assim, por meio dessa cultura, que os imigrantes italianos praticaram novas formas de organização e luta trabalhista durante a Primeira República (1889-1930).
Luigi Biondi é professor da Universidade Federal de São Paulo e autor de Classe e Nação (Editora da Unicamp, 2011).
Saiba mais - Bibliografia
BATALHA, Cláudio Henrique de Moraes. O movimento operário na Primeira República. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
HALL, Michael. O movimento operário na Cidade de São Paulo: 1890-1954. In: HORTA, Paula (Org.) História da Cidade de São Paulo, A cidade na primeira metade do século XX, A - vol. 3. São Paulo: Paz e Terra, 2004, p. 259-89.
TOLEDO, Edilene. Anarquismo e sindicalismo revolucionário: trabalhadores e militantes em São Paulo na Primeira República. São Paulo: Perseu Abramo, 2004.
Avanti, São Paulo!
Luigi Biondi