O estado brasileiro com o maior percentual de descendentes de italianos é o Espírito Santo. A estatística vem de longe, da segunda metade do século XIX, quando terras capixabas receberam os primeiros imigrantes vindos da Itália.
Naquela época, chegaram aos portos do estado de 30 a 50 mil italianos. A princípio, em 1858, apenas 29 piemonteses se fixaram na colônia de Santa Isabel. Mas, anos depois, navios passaram a atracar regularmente, muitos trazendo bem mais que mil imigrantes. O Adria, por exemplo, chegou em 1888 com cerca de 1,4 mil pessoas, a maioria das regiões do Norte da Itália: Vêneto, Lombardia, Emilia Romagna, Trentino Alto-Adige e Piemonte.
Em busca de autonomia, esses italianos vieram com a intenção de trabalhar em terras próprias. As famílias eram formadas geralmente por um casal ainda jovem e muitos filhos pequenos, além de parentes e agregados. Com frequência, esses grupos tinham pouca instrução, ainda que trouxessem um padrão cultural superior ao da população local.
Para receber essa nova população, o programa de imigração imperial criou vários núcleos no estado. As primeiras colônias foram Santa Isabel, estabelecida em 1847, onde se instalaram 163 alemães; Rio Novo, em 1854, e Santa Leopoldina, em 1856. Mais tarde, foram criados núcleos povoados majoritariamente por italianos e tiroleses: Timbuí (1874), Santa Cruz, (1877) e Castelo (1880). A situação era tão promissora que, na década de 1890, o governo do estado investiu com recursos próprios na promoção da ida de imigrantes para lá.
Mas nem tudo eram flores. As entradas se intensificaram, e o povoamento foi gradativamente se expandindo em áreas sem infraestrutura adequada. Os problemas enfrentados pelos imigrantes levaram o governo italiano a promulgar, em 1895, um decreto específico a fim de suspender a emigração para o estado. Esse fato, somado à crise econômica do café – base da economia local –, acabou encerrando o período imigratório para o Espírito Santo no final do século XIX.
Os que chegaram ao Brasil eram recrutados para trabalhar nas grandes fazendas cafeeiras da região Sudeste. Mas, no Espírito Santo, foi diferente. A imigração ali não buscou substituir a mão de obra escrava, mesmo porque a introdução dos escravos nesse estado ocorreu tardiamente, na época em que o processo abolicionista já estava em curso. O que se queria era fixar famílias de agricultores para povoar os espaços vazios, além de dinamizar a economia. Por conta dessa distribuição, hoje existem menos latifundiários capixabas do que pequenos e médios proprietários de terras, bem diferente da situação de muitos outros estados.
Aurélia H. Castiglioni é professora da Universidade Federal do Espírito Santo e autora de “Migração: abordagens teóricas”. In: ARAGÓN, Luís. E. Migração Internacional na Pan-Amazônia (NAEA/UFPA, 2009).
Saiba Mais - Internet
Banco de dados sobre a Imigração Italiana no Espírito Santo
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Buona gente capixaba
Aurélia H. Castiglioni