Herança é sempre motivo de briga. Compete-se por terreno, apartamento, dinheiro, móveis, quadros, ações. Mas espólio que se preza também carrega um “elefante branco” que ninguém quer. Por exemplo: aquele carro usado, pelo qual o velho dono tinha um imenso carinho. Pois nos últimos tempos, um museu de Brasília e outro do município de Levy Gasparian, no Rio de Janeiro, se envolveram numa querela justamente pela posse de um veículo antigo: a carruagem Mazeppa, localizada no Museu Rodoviário.
A Mazeppa foi fabricada em 1854, na Inglaterra, e, puxada por cavalos, fazia o percurso entre o Rio de Janeiro e Petrópolis. Ao sair de uso, ficou por um bom tempo guardada numa fazenda, até ser doada ao Museu Histórico de Petrópolis, que, por sua vez, a repassou ao Museu Imperial.
Na década de 1980 foi montado o Museu Rodoviário de Paraibuna, em Levy Gasparian, a 50 quilômetros de Juiz de Fora. Após um acordo com o Museu Imperial, a carruagem histórica foi emprestada ao acervo. E lá ficou sem qualquer problema durante quase 25 anos. Até que, no ano passado, os curadores do Museu dos Correios, em Brasília, resolveram requisitá-la. Foi aí que começou a batalha pela Mazeppa.
No Museu dos Correios, diz-se que a Mazeppa era uma carruagem postal. O Museu Imperial, que tem o direito sobre ela, aceitou cedê-la. O que não se esperava era que a população de Levy Gasparian se unisse pela permanência de uma peça de museu. O Iphan foi acionado para dar um parecer. Houve então uma reunião do instituto com os secretários de Turismo e de Educação, e moradores do município de Levy Gasparian. Decidiu-se pela permanência da carruagem, como conta Claudia Storino, arquiteta do Departamento de Museus e Centros Culturais do Iphan:– O Museu Rodoviário é mínimo. A equipe não chega a ter meia dúzia de pessoas. O público também é ínfimo. Mas a Mazeppa é a peça mais importante do acervo. E tem um valor afetivo para aquelas pessoas. Na reunião, elas até propuseram abrir mão de alguns ônibus velhos que pertencem ao Museu, mas não da carruagem, que está superbem conservada. É verdade que em Brasília haveria muito mais gente para vê-la. Mas o museu de Levy Gasparian fica no lugar que era uma estação de muda, espécie de posto de gasolina do século XIX. Ali, os cavalos eram trocados para que a viagem das carruagens como ela prosseguisse. Naquele local, está contextualizada.
Em breve, a Revista de História publicará uma matéria completa sobre a história da Mazeppa, assinada pelos próprios pesquisadores do Iphan.
A batalha da Mazeppa
Roberto Kaz