O turismo ainda é um tema tabu quando se fala em terras indígenas. Por conta disso, a Fundação Nacional do Índio (Funai), a partir do seu plano Plurianual de 2012-2015, começou a estudar junto a representações indígenas formas sustentáveis de promover o uso de recursos naturais e também iniciativas produtivas, como etnoturismo e ecoturismo. Para viabilizar essas atividades, é preciso haver respeito à decisão de cada comunidade e à “diversidade dos povos indígenas, promovendo-se, quando couber, estudos prévios, diagnósticos de impacto socioambientais e a capacitação das comunidades indígenas para a gestão dessas atividades”, conforme explicações da Funai.
O indigenista Nuno Nunes, da Funai de Santa Catarina, atesta que o turismo hoje não é oficialmente reconhecido nas terras indígenas por conta da necessidade de licitações para hotelaria, alimentação e transporte, por exemplo, que não são regulamentas pela lei. Isto ocorre por causa das diferenças de organização social, costumes, línguas, crenças e tradições garantidas pela Constituição. Atualmente é permitida apenas a visitação. Agendadas previamente, as visitas são feitas por grupos de escolas ou turistas estrangeiros, que passam no máximo um dia na aldeia e participam de atividades como trilhas, palestras sobre a cultura indígena e apresentações de coral da escola da aldeia.
A visitação é uma atividade adotada em muitas terras indígenas. Um exemplo é a Escola Wherá Tupã Poty Djá na Terra Indígena M’Biguaçu, da etnia Guarani, em Santa Catarina. Os guias das trilhas são os próprios alunos, que começam a desempenhar a função a partir dos 7 anos de idade. Segundo o diretor da escola, Richard Thibes Sarmiento, a atividade inclui conhecer as árvores medicinais de onde vêm os remédios usados na escola e na aldeia. O diretor acredita que “as visitas têm grande valia para romper um pouco o olhar de preconceito e de invisibilidade que se tem em relação ao índio”.
Já na Aldeia Krukutu, da Terra Indígena Tenondetorá, em São Paulo, além de grupos de escolas e turistas, são recebidos universitários e pesquisadores para realizar estudos e trabalhos de conclusão de curso. “O propósito é atender ao público não só para ele entender melhor a cultura indígena, mas também como uma forma de atividade econômica”, explica Marcos Tupã, coordenador da Comissão de Terras Guaranis Yvyrupa, em São Paulo. Segundo ele, há uma vontade política para a regulamentação do turismo, mas é necessário levar em consideração as regras e a cultura de cada aldeia.
Para a historiadora Beatriz Freire, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Rio Grande do Sul, oturismo é uma forma de contato e de consumo que pode ser do interesse de algumas comunidades indígenas. “Mas para que não seja também uma forma de exploração, é fundamental que o turismo em áreas indígenas se realize mediante autorização e sob o controle dos próprios indígenas, respeitando os limites definidos por eles”, completa.
A cultura de cada aldeia
Déborah Araujo e Fernanda Távora