Quem deve contar a História? Muitos acreditam que essa nobre atribuição deve ficar restrita aos acadêmicos. O Museu da Pessoa rema contra essa maré: sua missão é recolher narrativas de gente comum. E depois de 17 anos de trabalho, acaba de lançar seu primeiro livro.
“O museu surgiu de uma iniciativa da Karen Worcman, que fazia mestrado sobre um grupo de imigrantes. Vendo que não havia nenhum espaço dedicado a esse tipo de fonte histórica, um grupo de pessoas resolveu criá-lo”, explica José Santos, diretor da instituição e um de seus fundadores.
A iniciativa, pioneira no mundo, foi um sucesso. O acervo conta hoje com mais de 11 mil depoimentos biográficos. Qualquer pessoa pode visitar a sede da instituição e contar sua história e as memórias de sua família. Além de deixar o registro para a posteridade, o visitante ainda recebe um DVD para guardar em casa – e transmitir às novas gerações. Para quem não pode ir até lá, o site do Museu da Pessoa recebe vídeos e também os incorpora ao acervo: www.museudapessoa.net.
Em outubro de 2008, o museu deu um passo inédito: transformou em livro uma pequena parte de seus registros. Memórias de Brasileiro é uma seleta amostra de 109 narrativas individuais. “A seleção foi duríssima, de chorar”, ressalta José Santos, esclarecendo que foi adotado um recorte geográfico, com histórias vindas de todos os estados e do Distrito Federal.
A equipe foi a campo recolher depoimentos nos confins do país, nas margens do Rio Amazonas ou na região do Médio São Francisco. O resultado são 208 páginas ricamente ilustradas, que contam histórias de vida interessantíssimas. Como o relato do escritor paulista Luís Mendes. “Ele passou trinta anos preso numa solitária no Carandiru, onde teve o primeiro contato com a literatura por intermédio de um detento da cela vizinha, que lia para ele. Ao sair da cadeia, tornou-se leitor fanático e já publicou dois livros”, conta José. Outra selecionada foi Vó Maria, viúva do sambista Donga: “Ela gravou seu primeiro CD de samba aos 91 anos. Aos 93, ingressou na Ordem dos Músicos com nota dez”.
Lançado o primeiro livro, o Museu da Pessoa já planeja o próximo volume. “Vamos começar a trabalhar no Memórias de Brasileiros 2, que desta vez vai trazer histórias de professores, comunidades quilombolas e festas brasileiras”, promete.
A história de cada um
Igor Mello