A Maré está para museu

  • Visitantes que chegam ao Rio de Janeiro pelo Aeroporto do Galeão ou pela Avenida Brasil – a via de maior movimento da cidade – vêem-se no meio de um emaranhado de indústrias e favelas por todos os lados. A paisagem de floresta de concreto urbana abriga uma comunidade batizada de Maré, que remonta à época em que o local era pouco mais que um manguezal ocupado por nordestinos que vinham tentar a vida na então capital federal, na década de 1940. 

    Atualmente, o Complexo da Maré reúne 16 favelas com cerca de 130 mil moradores. O aterro substituiu as áreas de alagadiços entre as ilhas do Fundão e do Governador – local do aeroporto –, onde muitas das casas eram erguidas sobre palafitas. E para que as palafitas, os trapiches e os farrapos não perdurassem apenas como uma citação da música “Alagados”, dos Paralamas do Sucesso, foi inaugurado, no dia 8 de maio, o Museu da Maré, com a presença do ministro Gilberto Gil.

    Desde 1997, o projeto Memória Viva coleta fotografias, objetos e relatos que formam um acervo histórico da Maré. Há imagens dos primeiros barracos, sobre palafitas, das antigas ilhas rentes à favela, e muitas narrativas dos moradores mais antigos, resgatando pela palavra o que a história escrita não conservou. É assim, por exemplo, que se descobre por que uma rua cercada de casas se chama Praia de Inhaúma. Claudia Rose Ribeiro da Silva, uma das organizadoras do museu, conta que, mais de meio século atrás, a rua dava de frente para a praia, que acabou com o aterro.

  • Foi nos anos 1960 que a ocupação da Maré aumentou de forma substancial: Carlos Lacerda, governador do Rio entre 1961 e 1965, fez uma série de obras para modernizar a Zona Sul. Favelas foram erradicadas e, em conseqüência disso, milhares de pessoas foram abrigadas em habitações “provisórias” construídas na Maré.

    Os organizadores do Museu explicam que ele não foi concebido como um local “muito arrumadinho, pensado e construído por um pequeno grupo de pessoas”, nem como um espaço para ser “visitado” ou um lugar destinado a matar as saudades de coisas antigas. Como esclarece um texto do jornal O Cidadão, editado por moradores da própria favela: “Tampouco será um depósito de coisas velhas que a gente não quer mais. O objetivo desse projeto é criar um museu do tempo. Mas não é o tempo das horas, dias e meses, aquele que contamos no relógio ou no calendário. O tempo do qual estamos falando é o tempo das experiências vividas nesse local.”

    A exposição permanente do Museu da Maré é dividida em doze “tempos” não-cronológicos. Assim, há uma sala que conta a história dos imigrantes, outra se refere à infância dos moradores. Há outra ainda que conta as histórias de resistência social ocorridas na comunidade, da qual faz parte a própria construção do Museu da Maré.

    O Museu da Maré fica na Rua Guilherme Maxwell, 26, Maré. O telefone é (21) 3868-6748.