A morte anunciada

Déborah Araujo

  • Divulgação / Foto Bruno Veiga“Sinto que só o sacrifício da vida poderá consertar o erro de um fracasso”. Esta frase abre o filme Getúlio, que chega às telas dos cinemas brasileiros em maio, seis décadas após a morte do ex-presidente. O longa-metragem mostra a tensão dos últimos 19 dias de Getulio Vargas, da tentativa de assassinato do seu principal adversário político, o jornalista Carlos Lacerda, até o fatídico 24 de agosto de 1954. Com direção de João Jardim (dos documentários Pro dia nascer feliz e Lixo extraordinário), o filme conta com o ator Tony Ramos no papel de Vargas, Drica Moraes como Alzira Vargas – filha e braço direito na Presidência – e Alexandre Borges como Lacerda.

    A trama se desenrola a partir da busca pelos responsáveis do atentado a Lacerda, no qual foi assassinado seu guarda-costas, o major da Aeronáutica Rubens Vaz. As investigações apontam que a ordem saiu de dentro do Palácio do Catete, antiga sede do governo federal e onde foi filmada grande parte do longa-metragem. Os opositores acusam Vargas ou alguém muito próximo a ele de ser o mandante do crime e, assim, fazem pressão para que ele renuncie. “Em 1954, Vargas viu-se, enfim, completamente sem saída ou alternativas. Não aceitaria ter o nome da família e sua própria honra enxovalhada com uma prisão. Preferiu a autoimolação”, explica o jornalista Lira Neto, biógrafo do ex-presidente.

    De acordo com Neto, antes de assumir seu primeiro mandato como presidente, em 1930, Vargas já deixava pistas de que ele jamais se deixaria difamar. Na primeira anotação de seu diário, no dia em que estourou a chamada “Revolução de 30”, ele se perguntava: “E se perdermos?”. A resposta, dada por ele mesmo, é a frase inicial do filme.  “O suicídio de Getúlio, na verdade, representou uma crônica de uma morte anunciada”, diz Lira Neto, cujo terceiro e último livro sobre Vargas tem previsão de lançamento para agosto.

    Para Tony Ramos, que completa 50 anos de carreira em junho, foi um presente viver esse personagem tão contraditório. Antes mesmo de confirmada a sua participação no filme, as netas de Getulio Vargas disseram para o diretor João Jardim que o ator tinha o semblante parecido com o do ex-presidente. “Eu fiquei muito impressionado com a semelhança quando o diretor pegou uma foto do Vargas por volta dos seus 50 anos com a faixa presidencial, fez uma montagem com uma foto minha e colocou as duas juntas. Senti mais responsabilidade”, declara o ator.

    A preparação de Tony Ramos para o papel se deu não apenas pelo material histórico disponibilizado pelo diretor, mas por cartas, conversas com familiares e outras pessoas próximas ao presidente. “Getulio não era um homem de sair da formalidade. Ele era um homem de hábitos muito simples”, conta o ator. “Espero que o filme ajude a transmitir essa imagem do Getulio, que pouca gente conhece, e ajude as pessoas a entenderem melhor esse momento da história do Brasil”.