À noite no museu

  • Quando a lua cheia despontou no céu e a Universidade Federal de Minas Gerais se preparava para fechar as portas, 150 pessoas chegavam ao Museu de História Natural da UFMG. Só arredaram pé dali por volta de meia-noite, depois de perambular pela mata. De crianças a idosos, todos participavam da primeira edição do programa “Uma noite no museu”, realizado no início deste deste ano.

    “Tivemos um público maior que o previsto. Esperávamos uma média de 60 pessoas”, diz a coordenadora do projeto, Carolina Bruschi. “E ainda tem uns mil inscritos na lista de espera”. Eles não terão que aguardar muito. Com o sucesso da iniciativa, a UFMG pretende realizar o próximo encontro em breve: assim que a lua cheia voltar a brilhar.

    “O evento já entrou para o calendário oficial da universidade. Vamos ter todo mês”, adianta Carolina. “Pensamos em abrir um espaço nesse horário para que os visitantes conheçam a dinâmica da mata à noite. Belo Horizonte é carente desse tipo de programação”.

    Na Europa e nos Estados Unidos, já é comum museus abrirem as portas depois que o sol se põe. No Brasil, a ideia vem, aos poucos, ganhando adeptos. O Planetário da Gávea, no Rio de Janeiro, é tarimbado no assunto. Há cinco anos realiza o “Dormindo com as estrelas”. A cada sessão, até 30 crianças entre 9 e 11 anos passam a noite no local.

    “É uma briga para conseguir vaga. Sempre tem pelo menos 300 crianças querendo participar. Algumas vêm repetidamente. Elas adoram”, garante o astrônomo Gilson Vieira, que coordenou as últimas edições do projeto.

    O “Dormindo com as estrelas” acontece uma vez por ano, durante os fins de semana de um mês inteiro. Munida de colchonetes e travesseiros, a garotada sobe ao terraço para observar o céu com telescópio, participa de gincanas e conhece os experimentos interativos. E se o dia amanhece sem nuvens, ainda há a observação do sol de brinde. “A ideia é trazer a criança para dentro de uma instituição científica, aproximá-la da ciência e, quem sabe, despertar vocações”, explica Vieira.

    Foi com esse mesmo intuito que o Museu Nacional, também no Rio, organizou o “De pijama no museu” no ano passado. Após ser recebida por D. João VI e companhia, uma turma de alunos do ensino fundamental adentrou a antiga residência da família imperial com lanternas em punho. “Teve reconhecimento de fósseis, contação de histórias, e os alunos dormiram na sala dos dinossauros. Foi um alvoroço”, lembra a paleontóloga Luciana Carvalho, responsável pela empreitada. “Estudamos a possibilidade de dar continuidade ao projeto, mas precisamos de financiamento”.

    O encantamento dos participantes é unanimidade nos encontros. O cansaço dos organizadores, também. Mas ninguém pensa em abandonar o projeto. “É uma loucura”, admite Vieira.