Abóbora, chaminé e companhia

Julio Bezerra

  • Não, não é Belo Horizonte. É Contagem. Fica na região metropolitana e é o segundo maior município mineiro, com cerca de 600 mil habitantes. Muita gente confunde, mas os contagenses fazem questão de ressaltar suas diferenças.

    Três anos atrás surgiu o Programa de Educação Patrimonial “Por Dentro da História”. Tudo começou com o lançamento de um concurso para escolher a mascote de Contagem. Cinco personagens, desenhados por alunos de escolas públicas, foram eleitos por júri popular. Contagito, o líder do grupo, é um menino com cabeça de abóbora, o que remete aos primórdios da cidade. No século XVIII, com a corrida provocada pela descoberta do ouro em Minas, foram criados postos de controle de cargas, escravos e impostos. Um desses “registros” mais famosos era o da “Região das Abobras”. De registro a “contagem”, o lugar ganhou seu nome definitivo, mas perdeu a referência ao legume.

    Fundada em 1716, mais de um século antes da planejada Belo Horizonte, Contagem tem outros motivos de orgulho, simbolizados pela Turma do Contagito: Zé Gonçalo é uma homenagem aos agricultores e ao santo padroeiro da matriz São Gonçalo do Amarante; Faluca é uma jabuticaba, das geléias e licores típicos da região; Chami é uma charmosa chaminé, referência ao primeiro parque industrial planejado da América Latina, de 1941; e Arturinho é um afro-descendente, membro da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e da Comunidade Negra dos Arturos.

    A turma virou livro e filme para crianças. Fantasiados, atores da região visitaram hospitais e mais de 150 escolas do município, abrangendo cerca de 30 mil pessoas. “Estamos trabalhando em novas edições do livro Conhecendo Contagem com a Turma do Contagito, uma em braile e outra traduzida em Libras (linguagem de sinais). Queremos também lançar uma página na Internet”, afirma Adebal de Andrade, coordenador do programa promovido pela prefeitura.

    Outra prioridade é a consolidação da Vila Contagito, um centro de referência de educação patrimonial. O espaço, idealizado pelas educadoras Elislene de Castro e Andréa Mendes, tem réplicas dos principais bens tombados de Contagem. Em placas ilustrativas, a Turma do Contagito transmite informações históricas. A Vila abre para visitação em 2009. “Queremos despertar em cada habitante um elo com um município repleto de rostos, vozes, histórias, memórias e significados. Nosso município nunca será uno, mas um espaço permanente de construção de todas as suas identidades”, define Adebal.

    O programa foi um dos vencedores do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade 2008. Mas, para os moradores de Contagem, o maior prêmio foi ganhar uma identidade própria.