Admirável arte nova

Igor Mello

  • Neste início de 2009, o Brasil vive nova oportunidade de conhecer de perto as obras de Vik Muniz, um de nossos mais respeitados artistas contemporâneos. O aspecto mais original de seus trabalhos é a utilização de diversos recursos e objetos para compor as imagens, que fotografa ao final.

    Um amplo mapa-múndi todo feito com peças de computador. Meninos pobres do Rio “desenhados” com restos do Carnaval (guimbas de cigarro, confetes, sujeira). Crianças de açúcar, cenários de chocolate. O que se vê na exposição são as fotos que registram essas colagens variadas. Mas muitos visitantes já devem ter se perguntado: onde foram parar as obras originais?

    Quinze delas estão sob a guarda da Biblioteca Nacional. São as colagens da série “Retratos de revista”, doadas em janeiro de 2004, quando a Biblioteca lançou o livro Vik Muniz: Obras Incompletas e abrigou uma mostra do artista. Com base em fotografias de personalidades famosas, Vik refez seus retratos utilizando pequenos círculos recortados de revistas. A escolha do material, como sempre em seus trabalhos, não tem nada de ocasional. “As imagens de revista, que simbolizam a mídia de uma maneira geral, são formadas por pequenos círculos de tinta. Imitar essa composição é uma forma encontrada por ele para desconstruir a versão midiática que esconde os verdadeiros indivíduos”, opina Joaquim Marçal, pesquisador da Divisão de Iconografia.

    A doação de trabalhos artísticos contemporâneos para bibliotecas tradicionais aponta para uma aproximação das diferentes formas de arte e saber. Mas técnicas artísticas inovadoras, como as de Vik Muniz, representam também um desafio no que diz respeito à conservação. No caso da coleção “Retratos de revista”, um simples círculo que se desprendesse da colagem já a descaracterizaria, e restaurá-lo fielmente seria complicado. “Os técnicos teriam que analisar o padrão da obra e encontrar de onde cada fragmento saiu”, explica Marçal.

    Outras obras catalogadas na Divisão de Iconografia enfrentam problema parecido. Como conservar, por exemplo, uma gravura feita com gesso e um tubo de PVC? Doada pela Sociedade Os Amigos da Gravura, ela faz parte do acervo. “Nós sabemos que o PVC é um plástico que dentro de vinte anos estará totalmente degradado. Como impedir que isso aconteça? Às vezes esbarramos em situações impossíveis de se resolver”, confessa o pesquisador.

    A solução, ele admite, é dada pelos próprios artistas. “A melhor maneira de conservar esses trabalhos é a fotografia. O conceito mais importante da obra de Vik Muniz é a reprodução. A obra de arte é a cópia da cópia.” Os originais, portanto, embora valiosos histórica e artisticamente, foram apenas uma etapa do processo.

    Mas enquanto puderem estar presentes, a Biblioteca Nacional promete quebrar a cabeça em busca de soluções para conservá-los. “Precisamos nos adaptar aos novos tempos”, resume Marçal. (Igor Mello)

    “Retratos de revista” é uma das séries da mostra “Vik”, que fica no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro até o dia 8 de março, e estréia no Museu de Arte de São Paulo (MASP) no dia 23 de abril.