Alemães

Vivi Fernandes de Lima

  • O escritor Georg Knoll tinha 19 anos quando desembarcou no Brasil em 1880. Veio de Kronberg, na Alemanha, e em menos de uma década teve publicados versos que expressam suas primeiras impressões ao chegar por aqui: “Eu te saúdo sagrada terra do Cruzeiro, / outrora Santa Cruz, descoberta por Lusitânia. /Sublime tu despontas do mar, / comparável ao paraíso”. Sagrada e sublime, nas palavras do poeta, mas nem tanto. Olhando mais de perto, nota-se  que o“paraíso” também tinha conflitos, como as revoluções Farroupilha e Federalista, e um jogo de interesses que começou geopolítico, no Primeiro Reinado, e se firmou como econômico, a partir do Segundo Reinado. 

    Rodrigo Trespach abre o dossiê “Alemães no Brasil” fazendo um panorama dessas ocupações e suas relações de trabalho. Frederik Schulze chama a atenção para o fato de a Europa ter sido um continente de emigração no século XIX. E as motivações para migrar para cá eram muitas. Aos poucos, a cultura considerada alemã foi se integrando à brasileira, e se modificando. Até mesmo a “tradicional” gastronomia dessas comunidades tem um quê – ou alguns quilos – de Brasil, ressalta Glen Goodman.

    Após a Primeira Guerra Mundial, a Alemanha apostou na política cultural, expandindo o ensino da língua de Goethe no Brasil, como conta Igor Gak. Mas durante o Estado Novo, já no contexto da Segunda Guerra, Vargas quis destacar a brasilidade de nosso povo, reprimindo expressões culturais vindas de países inimigos. A resposta acabou chegando em forma de cidadania: “entre 1940 e 1960, o número de alemães que se tornaram brasileiros foi 14 vezes maior do que no período entre 1920 e 1940”. Eles, os germânicos e seus descendentes, já eram nós. E fazem parte, há 190 anos, da mesma história que traz D. Pedros, Machado, sambas, repressões e muita lata d’água na cabeça.