A frase do mês
“Escrever a história é um modo de nos livrarmos do passado.”
Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832), escritor alemão.
O bolso furado do imperador
Em tempos de escolher governantes, é bom estar atento às relações que os homens públicos mantêm com o dinheiro do povo. Um exemplo a ser lembrado é o de D. Pedro II. O imperador esteve no trono brasileiro por quase 50 anos, e nunca aceitou aumento na sua dotação, isto é, o salário. Pouco depois de ser coroado, ainda com 14 anos, tratou de extinguir cargos públicos que considerava inúteis (por exemplo, a Guarda Imperial, depois recriada, já na República, com o nome de Dragões da Independência). Além de pagar do próprio bolso estudos de brasileiros no exterior – que foram estudar arte, medicina e engenharia, com a condição de retornar ao Brasil e aplicar aqui seus conhecimentos – doava recorrentemente parte do salário a obras de caridade (ou para gastos de guerra). Pagava também viagens pelo país, e fazia empréstimos para viajar para o exterior. Quando morreu, exilado, em 1891, não havia amealhado fortuna. Ao contrário, deixou dívidas.
Em D. PedroII, de José Murilo de Carvalho.
Maldito o filho
A independência do reino de Portugal em relação à Espanha foi recebida com alegria por muitos lusitanos em 1640, quando chegou ao fim a União Ibérica. Mas, segundo a lenda, deixou uma nuvem sinistra pairando sobre a nova dinastia, a de Bragança. Conta-se que o novo rei, D. João IV, desferiu chutes em um frade franciscano que lhe havia pedido esmolas – o religioso, em resposta, lançou uma maldição: todos os primogênitos da família morreriam antes de assumir o trono. O fato é que quase todos os homens primogênitos da casa de Bragança morreram nestas circunstâncias, até o fim da monarquia no Brasil (em 1889) e em Portugal (1910). Apenas dois escaparam: D. Pedro V, que assumiu o trono português em 1853, morrendo oito anos depois e passando o trono para o irmão; e D. Carlos I, também em Portugal, que virou rei em 1889 e foi assassinado (junto com seu primogênito) em 1908. No Brasil, os primogênitos da Casa Imperial foram enterrados no convento dos franciscanos, supostamente como uma forma de aplacar a maldição.
A múmia do Pão de Açúcar
As múmias egípcias do Museu Nacional são bastante conhecidas, como a chamada de Kherima. Menos conhecida é a “múmia” encontrada em uma fenda no Pão de Açúcar, em 1949. O jornal A Noite noticiou, no dia 19 de setembro daquele ano, que três exploradores, dispostos a inaugurar uma nova rota para a subida do pico, encontraram em uma fenda denominada “chaminé Gallotti” o corpo naturalmente mumificado de um rapaz, trajando apenas um pulôver, pendurado nas rochas pelo queixo. A reportagem, na linguagem formal da imprensa da época, afirmava: “Após a entrevista com Ricardo Menescal [um dos exploradores], que nos obsequiou ainda com um gráfico do local escalado, bem como o ponto em que foi encontrado o cadáver, palestramos ligeiramente com Antonio Marcos, outro jovem excursionista e que foi o primeiro a divisar o corpo”. Nunca se descobriu a identidade do rapaz, e como acabou ali ainda permanece um mistério.
Salvos pelo sino
A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) dividiu a Europa por conta de rivalidades dinásticas e religiosas, e seus vestígios ainda se encontram no continente, às vezes da forma mais prosaica. É o caso, por exemplo, de uma tradição na cidade de Brno, hoje na República Tcheca. Uma força militar sueca forçava a entrada na cidade em 1645. O general que a assediava havia estabelecido que tentaria invadir a entrada até o meio-dia. Caso não fosse vencedor até aquele momento, retiraria seus soldados e desistiria da empreitada. Os cercados de Brno, sabendo do estabelecido pelo general invasor, fizeram os sinos dobrarem o toque de meio-dia às 11 da manhã. Os suecos se retiraram, e até hoje a catedral marca o meio-dia uma hora mais cedo.