Murphy arretado
Invocamos a “Lei de Murphy” quando queremos dizer que o erro venceu todas as outras probabilidades. O que nem todos sabem é que seu pai, o engenheiro espacial norte-americano Edward Murphy, estava, na verdade, respondendo a um questionamento do médico e coronel da Força Aérea americana John Paul Sapp, nascido, vejam só, na Bahia. O militar era um estudioso dos efeitos da aceleração sobre o corpo humano, e a tal “lei” nasceu por conta de uma das suas experiências, em 1949. Naquela ocasião, Stapp bateu o recorde mundial de aceleração – mas não pôde registrar o fato. Os instrumentos de medição de velocidade do veículo não funcionaram. Após uma investigação a pedido do coronel, Murphy concluiu que um técnico ligou os instrumentos ao contrário. E anotou: “Se há mais de uma forma de fazer um trabalho e uma dessas formas redundará em desastre, então alguém fará o trabalho dessa forma”. Stapp, brincalhão e colecionador de frases de efeito, fez a declaração para a imprensa: “Se alguma coisa pode dar errado, dará”. E nascia assim, da boca de um soteropolitano nato, a Lei de Murphy.
No porão
De uns tempos para cá, parte da população mundial ficou chocada com notícias sobre homens que mantiveram mulheres trancafiadas durante anos sem comunicação com o exterior. E isso em plena Europa “civilizada”. Mulheres do Brasil colonial e imperial estiveram sujeitas a práticas análogas, como registrou o francês naturalizado brasileiro Hercule Florence na década de 1820. Viajando pelo interior do país, ele encontrou, perto de Cuiabá, um senhor de engenho que lhe contou uma história assustadora. Viúvo, ele mostrou ao viajante um alçapão que mantinha no seu quarto: “Aqui embaixo, disse-nos ele, é que eu guardava a mulher quando tinha de sair de casa. Ela descia por uma escadinha que eu recolhia, e recebia alimentos pela janela do engenho”. Era uma pequena mostra da tirania masculina que imperava no Brasil antigo.
Em Entre a luxúria e o pudor, de Paulo Sérgio do Carmo.
Esposas quentes
A associação entre fogões e mulheres pela cultura (machista) popular não é invenção brasileira. Uma tradição africana já tinha feito isso, e de forma bem mais complexa, há muito tempo. Tratava-se, na verdade, da relação estabelecida por alguns grupos da África Central entre a fertilidade feminina e a fundição de ferro. Era comum, nessa região, a existência de fornos com características sexuais femininas. O povo quioco, por exemplo, denominava o compartimento de fundição de vulva. O material que envolve o ferro já fundido era chamado de placenta. A relação ia além do corpo e atingia o laço de parentesco: os ferreiros chegavam a se referir aos fornos como “nossa esposa”.
Em Homens de ferro, de Juliana Ribeiro da Silva.
Inteligência hermética
O presidente Hermes da Fonseca (1855-1923) não era conhecido por sua inteligência. O marechal era alvo fácil dos jornais, que o acusavam de ser fraco e de governar a reboque de outras figuras políticas, como o senador gaúcho Pinheiro Machado. Uma das anedotas que correram a seu respeito demonstra bem o que se pensava sobre o presidente. Conta-se que o velho militar, acamado, recebeu a visita de Pinheiro Machado (1851-1915). O senador disse ao marechal que mantendo as janelas “hermeticamente fechadas” ele jamais se curaria. O presidente ouviu o conselho, arejou o quarto e ficou curado. Tempos depois, a situação se inverteu, e o presidente foi visitar Pinheiro Machado doente. Hermes, repetindo a lição ao seu mestre, vaticinou: “Assim o senhor não se cura, senador”. “Por quê?”, perguntou o enfermo. “Porque o senhor fica com as janelas pinheiristicamente fechadas”.
Em Histórias de presidentes, de Isabel Lustosa.