Almanaque – Setembro 2011

  • Sem despacho

    Café Filho governou o Brasil de agosto de 1954 a novembro de 1955. Era uma época difícil, com uma crise política aberta pelo suicídio do seu antecessor, Getúlio Vargas.  O presidente não tinha muito a fazer a não ser gerenciar a situação tensa, com o risco de um golpe militar, agravada ainda mais com a disputa eleitoral de 1955. Mesmo assim, tentava manter a rotina administrativa, o que nem sempre era levado a sério pelos seus auxiliares. Em uma reunião rotineira com o ministro da Agricultura, José da Costa Porto, o presidente questionou: “Porto, por que tu trazes tão pouco despacho?”. O ministro tinha uma boa justificativa: “Café, no meu ministério, ou tenho problemas tão pequenos que eu mesmo resolvo, ou tão grandes que nem você resolve”.

    Em Do bestial ao genial, de Paulo Buchsbaum e André Buchsbaum.

    Roubaram nossa máquina

    Processos envolvendo patentes e roubo de propriedade intelectual movimentam a indústria da tecnologia. Mas as controvérsias sobre a paternidade de ideias revolucionárias não começaram com gigantes como a Apple e a Samsung. A máquina de datilografia, que por muitas décadas foi um item tão básico como são os computadores atualmente, é em grande parte herdeira da invenção do padre paraibano Francisco João de Azevedo (1814-1880). A engenhoca criada por ele, que era professor de matemática, figurou na Exposição Agrícola e Industrial de 1861, quando recebeu uma medalha de ouro. Segundo um biógrafo do padre, o projeto de Azevedo foi surrupiado e entregue ao tipógrafo americano Christopher Sholes (1819-1890). O “inventor” teria adaptado e patenteado o padrão das teclas da máquina do brasileiro, que resultou no famoso QWERTY, presente hoje nos teclados eletrônicos do mundo inteiro.  Sholes alcançou a glória, e Azevedo morreu, em 1880, sem o devido reconhecimento.

    O boimate

    O molho à bolonhesa, feito basicamente com tomate e carne bovina, é uma das preferências dos que apreciam a gastronomia italiana. Imagine, então, se a natureza desse uma forcinha e já fornecesse os dois ingredientes básicos de uma só vez. Foi o que a revista inglesa New Scientist divulgou em 1983. A imprensa brasileira repercutiu a “notícia”, segundo a qual pesquisadores alemães haviam conseguido fundir células de boi com as de um tomate, gerando um fruto híbrido de animal e vegetal – o boimate. Uma publicação brasileira chegou a ouvir um biólogo da USP, que ficou empolgado com as possibilidades deste avanço. Mas tudo não passava de uma grande brincadeira de 1º de abril da revista britânica... Pelo visto, vamos continuar dependendo da receita da mamma.

    Igreja ateia

    O conjunto arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte, é um dos nossos grandes tesouros arquitetônicos. Uma das joias é a Igreja de São Francisco de Assis, projetada por Oscar Niemeyer e com painéis de Cândido Portinari. A obra, encomendada pelo prefeito Juscelino Kubitschek, foi inaugurada em maio de 1943. Entretanto, as cores políticas empalideceram um espaço considerado um dos marcos da arquitetura moderna brasileira. A obra ficou quatorze anos sem ser consagrada e, portanto, sem ser apreciada como um lugar religioso: para o arcebispo D. Antônio Cabral, a fachada da construção lembrava símbolos comunistas. A marquise e a abóboda do templo sugeriam uma foice, enquanto a mesma marquise com o campanário lembravam um martelo.

     

    Crédito da fot da capa: Surachai/ Free Photos