Alternativos para todos os gostos

Juliana Barreto Farias

  • Quando se fala em imprensa alternativa no Brasil, as referências aos jornais O Pasquim, Opinião e Movimento são quase obrigatórias. Mas durante a ditadura militar, mais de quatrocentas publicações desse tipo foram produzidas de Norte a Sul do país. E hoje boa parte pode ser consultada no acervo de periódicos da Biblioteca Nacional. É o que revela o jornalista Bruno Brasil, da Coordenadoria de Publicações Seriadas da instituição, à frente do inventário de jornais e revistas alternativos que saíram entre os anos de 1964 e 1985.

    Com a censura à “grande imprensa”, esses pequenos semanários ou mensários políticos eram a saída para que jornalistas, estudantes, artistas e ilustradores expressassem suas críticas e driblassem o regime militar. Nem todos tiveram vida tão longa quanto O Pasquim, que durou até a década 1990, e ainda foi relançado em 2002 com o nome de Pasquim 21. Mas há casos como o do Cometa Itabirano, que começou a ser editado em 1979, na cidade mineira de Itabira, e até hoje continua em circulação. Ao longo desse tempo, ele foi perdendo seu caráter estudantil até adquirir, nos últimos tempos, um perfil bem mais cultural.

    “Nos estudos sobre esses jornais, há uma tendência a separá-los em dois grupos: os políticos, de oposição à ditadura, mais ligados à luta armada; e os da contracultura, que falavam de desbunde, sexo e drogas. Mas venho percebendo que existem vários outros subgrupos, como os poéticos, a imprensa gay, os primeiros fanzines, os anarquistas, os alternativos que criticavam os próprios alternativos, como O Beijo, do Rio de Janeiro”, enumera Bruno Brasil, que faz a pesquisa desde 2006.

    Além de reunir informações sobre todas as publicações “nanicas” depositadas na Biblioteca Nacional, o jornalista também vem mapeamento os periódicos espalhados por outras instituições e por acervos particulares. “Não temos tantos jornais sobre o período. Há muitas edições esparsas e algumas coleções completas, como a revista Civilização Brasileira e o jornal Movimento. Mesmo assim, pensei: como é tradição na Biblioteca privilegiar o século XIX, por que não estudar o século XX?” Até agora, ele já catalogou mais de quatrocentas publicações, destacando suas linhas editoriais, episódios de censura, prisões de jornalistas, formatos e periodicidade, aspectos gráficos e lista de colaboradores. “O jornal Resistência, de Belém, por exemplo, era o principal veículo alternativo da Região Norte e fazia uma forte propaganda de Jader Barbalho, do então MDB”, afirma o jornalista.

    Inicialmente, a ideia é transformar o inventário numa base de dados interna. Depois, poderá virar uma publicação de referência. Enquanto isso, os pesquisadores podem aproveitar para folhear as páginas sensacionalistas do Repórter – “Autônomo e independente” ou ler as colunas do então líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva no jornal Os companheiros.