Ampliando conceitos

Angélica Fontella

  • Recorte, ampliação, data, autoria e personagens são algumas das informações, acrescentadas à mão, que carregam as chamadas fotografias ampliadas. O procedimento pouco conhecido é a essência do projeto “Fotografias do Jornal Última Hora”, iniciado em 2014. Nada menos que 166 mil ampliações fotográficas usadas pelo periódico carioca, que circulou de 1951 a 1971, serão disponibilizadas ainda este ano.
     
    “Antigamente, o fotógrafo voltava para a redação e revelava todo o seu filme. A partir dos negativos, o chamado editor de fotografias selecionava o que seria ampliado”. Era em cima dessas fotos ampliadas que a edição tomava forma, conta Marialva Carlos Barbosa, professora da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 
     
    “É muito importante essa divulgação, primeiro, porque recupera os processos de produção jornalística e, segundo, porque permite a comparação entre a foto publicada e aquela marcada, ou até a que foi marcada mas não foi publicada por falta de espaço ou por censura. Para o pesquisador, significa a compreensão dos processos produtivos e de seleção de memória e esquecimento”, lembra a professora.
     
    Faz 26 anos que o Arquivo Público do Estado de São Paulo adquiriu o acervo Última Hora. A coleção de jornais, mais 2.140 ilustrações originais (charges, caricaturas e desenhos) e 600 mil negativos fotográficos estão disponíveis para consulta. Agora, a equipe se volta para as ampliações em gelatina e prata sobre papel. “Cada fotografia passa por três etapas de tratamento: catalogação, higienização e digitalização. Depois, as imagens são inseridas num banco de dados e a previsão é de que em julho comecem a ser disponibilizadas para consulta on-line”, explica Cesar Frezzato, diretor da Associação de Amigos do Arquivo do Estado de São Paulo, entidade que coordena a iniciativa.
     
    Ana Maria Mauad, pesquisadora do Laboratório de História Oral e Imagem da Universidade Federal Fluminense, diz que o projeto revela não só a imagem, mas também as práticas de registro, facilitando o acesso dos pesquisadores. Sobre as diferenças entre a dinâmica da grande imprensa e a das agências de fotografia brasileiras dos anos 1980, Mauad explica que “havia um protocolo razoável de arquivamento nas redações, para sistematizar a rotina dos fotógrafos. Com as agências, aparece uma necessidade de registrar para construir memória”. 
     
    Entre o passado e o presente, a professora acredita que entramos numa nova era de registros e arquivamentos: “A quantidade de imagens que se produz aumentou de forma exponencial e a facilidade do registro digital obriga você a ter importantes protocolos de arquivamento. Hoje, os desafios da lógica do arquivo são complexos. Devemos pensar em função desses novos sistemas”.
     
    Mais informações: http://www.arquivoestado.sp.gov.br/uhdigital/