A Praça Marechal Âncora, no Centro do Rio de Janeiro, há anos está esquecida. Ao lado da movimentada saída das barcas para Niterói, ela continua sem segurança e pouco movimentada. Mas sua história nem sempre foi essa. Ali foi construído, em 1908, o mercado municipal, um prédio imponente com mais de 20 mil metros quadrados, feito em grande parte com materiais importados da Europa. Apesar de todo o luxo, ele não ficou de pé. Hoje só resta uma de suas torres, onde funciona desde 1933 o restaurante Albamar. Mas deste mês até o fim do ano, a cena será outra: a torre vai ser restaurada e a praça será revitalizada com um projeto do Escritório Burle Marx.
“Os barcos pesqueiros atracavam na Praça XV, logo ao lado. Por isso o mercado vendia principalmente peixe, além de produtos agrícolas. Ali por perto também havia muitos restaurantes de pescado, como o Albamar. Mas o mercado só durou até a década de 1960. Ele foi demolido, pois estava no caminho da construção da Avenida Perimetral e da Avenida Alfredo Agache”, conta Roberto Ainbinder, arquiteto e diretor do Instituto Pereira Passos. Durante as obras, os funcionários do Albamar, com a ajuda do vice-governador, Rafael de Almeida Magalhães (1930-2011), frequentador do local, conseguiram que o restaurante não fosse demolido.
As décadas de 1960 e 1970 foram sua época de ouro. O prédio foi reformado entre 1964 e 1967 e tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac). Nas mesas do restaurante, não era difícil ver empresários de destaque, desembargadores, diplomatas, políticos, intelectuais e personalidades daqui e do exterior. O historiador Pedro Calmon, por exemplo, era um dos frequentadores do local. “Tudo ia bem, mas a partir dos anos 1980, com o esvaziamento econômico da cidade, a deterioração do Centro e o Plano Collor, o restaurante enfrentou vários problemas. Mas em nenhum momento foi fechado. Nós ganhamos a licitação para assumi-lo, já que pertence ao estado do Rio de Janeiro, e em 2009 já fizemos reformas internas”, diz Paulo Corrêa, um dos sócios do Albamar.
Este mês deve ser iniciada a restauração do edifício, um projeto da arquiteta Sandra Branco. “Usamos a imagem do restaurante na década de 1960, pois a memória coletiva é mais dessa época”, diz ela. A cúpula e a fachada serão restauradas, peças metálicas e de madeira em mau estado serão trocadas, e será feito também trabalho de pintura. Já as obras na praça devem demorar um pouco mais. O projeto irá manter as árvores do local, que terão a companhia de um espelho d’água e de obras de arte. “Nossa ideia é que a área volte a ser agradável e que a torre do restaurante prevaleça, porque é um marco da arquitetura”, diz o arquiteto e paisagista Haruyoshi Ono, diretor do Escritório Burle Marx. Boa notícia para os cariocas, que não têm mais mercado municipal, mas terão uma nova área de lazer.
Âncoras do lazer
Cristina Romanelli