Âncoras do lazer

Cristina Romanelli

  • O projeto elaborado pelo arquiteto Haruyoshi Ono deve revitalizar a praça no Centro do Rio de Janeiro até o fim do ano.A Praça Marechal Âncora, no Centro do Rio de Janeiro, há anos está esquecida. Ao lado da movimentada saída das barcas para Niterói, ela continua sem segurança e pouco movimentada. Mas sua história nem sempre foi essa. Ali foi construído, em 1908, o mercado municipal, um prédio imponente com mais de 20 mil metros quadrados, feito em grande parte com materiais importados da Europa. Apesar de todo o luxo, ele não ficou de pé. Hoje só resta uma de suas torres, onde funciona desde 1933 o restaurante Albamar. Mas deste mês até o fim do ano, a cena será outra: a torre vai ser restaurada e a praça será revitalizada com um projeto do Escritório Burle Marx.

    “Os barcos pesqueiros atracavam na Praça XV, logo ao lado. Por isso o mercado vendia principalmente peixe, além de produtos agrícolas. Ali por perto também havia muitos restaurantes de pescado, como o Albamar. Mas o mercado só durou até a década de 1960. Ele foi demolido, pois estava no caminho da construção da Avenida Perimetral e da Avenida Alfredo Agache”, conta Roberto Ainbinder, arquiteto e diretor do Instituto Pereira Passos. Durante as obras, os funcionários do Albamar, com a ajuda do vice-governador, Rafael de Almeida Magalhães (1930-2011), frequentador do local, conseguiram que o restaurante não fosse demolido.

    As décadas de 1960 e 1970 foram sua época de ouro. O prédio foi reformado entre 1964 e 1967 e tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac). Nas mesas do restaurante, não era difícil ver empresários de destaque, desembargadores, diplomatas, políticos, intelectuais e personalidades daqui e do exterior. O historiador Pedro Calmon, por exemplo, era um dos frequentadores do local. “Tudo ia bem, mas a partir dos anos 1980, com o esvaziamento econômico da cidade, a deterioração do Centro e o Plano Collor, o restaurante enfrentou vários problemas. Mas em nenhum momento foi fechado. Nós ganhamos a licitação para assumi-lo, já que pertence ao estado do Rio de Janeiro, e em 2009 já fizemos reformas internas”, diz Paulo Corrêa, um dos sócios do Albamar.

    Este mês deve ser iniciada a restauração do edifício, um projeto da arquiteta Sandra Branco. “Usamos a imagem do restaurante na década de 1960, pois a memória coletiva é mais dessa época”, diz ela. A cúpula e a fachada serão restauradas, peças metálicas e de madeira em mau estado serão trocadas, e será feito também trabalho de pintura. Já as obras na praça devem demorar um pouco mais. O projeto irá manter as árvores do local, que terão a companhia de um espelho d’água e de obras de arte. “Nossa ideia é que a área volte a ser agradável e que a torre do restaurante prevaleça, porque é um marco da arquitetura”, diz o arquiteto e paisagista Haruyoshi Ono, diretor do Escritório Burle Marx. Boa notícia para os cariocas, que não têm mais mercado municipal, mas terão uma nova área de lazer.