Naquela terça-feira, Roberta, aluna do 6° ano da Unidade Engenho Novo II do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, estava “logada” no blog de sua professora de História e deixou um comentário:Robertadisse: “Professora, adorei o vídeo, muito legal, relembrei tudo, e acho que não esqueço mais. rs. E, sabe, fiquei curiosa para ver o filme do Moisés”.(16 de agosto de 2011, 21:08)
O vídeo a que ela se referia era sobre a história dos hebreus – assunto trabalhado em aula dias antes. Assim como Roberta, Diovana, sua colega de outra turma, também ficou curiosa:
Diovanadisse:“Olá, professora! Estava procurando no Google assuntos falando das sinagogas, pois quis saber um pouquinho mais sobre elas. E achei um post em um site que falava sobre esses templos. Se quiser, te envio o link. Beijos!” (20 de agosto de 2011, 17:40)
Com o uso da Internet e das novas tecnologias, é inegável o ganho para professores de História. Em geral, as tecnologias servem mais como ilustração de assuntos trabalhados com os alunos. Tornam a aula mais interessante e atraente, mas não necessariamente inovam os processos de ensino e aprendizagem. Há um grande desafio que está para além da estética da aula: reelaborar as formas de aprender e ensinar História, buscando a interação e a construção do conhecimento com a utilização de diferentes mídias. Por isso, entre abril e maio de 2010, criamos as páginas “Blog de História do 6º ano” e “Blog de História do 7º ano”, advertindo os alunos de que em breve eles teriam essa ferramenta de trabalho.
Os blogs foram criados inicialmente para estender os limites da sala de aula e atender à demanda dos alunos por mais informações, uma vez que os assuntos tratados na escola geram interesses que vão além do programa e do tempo das aulas. Conforme fomos utilizando os blogs, percebemos que eles eram mais que uma boa ferramenta didática: estimulando e motivando os alunos, eles possibilitaram uma relação diferente de ensino e aprendizagem.
Por meio deles, percebemos que, à medida que os alunos veem sua curiosidade saciada, o interesse pela História aumenta e as discussões em sala ficam mais atraentes para professores e alunos. Além disso, o blog pode funcionar estrategicamente nas aulas. As possibilidades são inúmeras: nas postagens, cabem trechos de filmes, imagens, textos, letras de música, canções e entrevistas em arquivo de som ou vídeo, além de orientações sobre atividades. Na impossibilidade de visitar o Museu do Louvre, em Paris, por exemplo, postamos uma fotografia da Estela de Hamurabi, em alta resolução, para que pudesse ser vista e estudada. Também podemos publicar imagens de esculturas ou pinturas que desejamos analisar com os alunos.
A frequência das nossas atualizações costuma ser semanal, embora haja variações. Isso depende muito do andamento das aulas, pois há as que surgem a partir de uma demanda dos alunos, que pedem uma publicação específica – ou seja, há posts “encomendados”, cujo título geralmente vem com um “Atendendo a pedidos” – e há outras que antecedem nossos encontros presenciais.
Antes de iniciar o estudo de uma nova temática, é sempre bom um “aquecimento”, postando algo que gere expectativa quanto ao tema a ser trabalhado nas aulas. Nas turmas do 6º ano, antes de começar o estudo de Egito em sala de aula, lancei a pergunta no blog: “Como é oEgitovistodeumsatélite?” Um link para o GoogleMaps permitia a visualização do onipresente deserto em oposição às áreas férteis e habitadas ao longo do Rio Nilo. Além disso, uma galeria de fotos sobre o Egito mostrava um pouco do país na atualidade e do que restou do seu passado milenar. Quando, enfim, começamos a estudar o Egito em sala de aula, os alunos estavam em tal nível de motivação e interesse que o andamento das atividades fluiu de forma prazerosa e produtiva. Ao analisarmos o mito de Osíris, eles estavam tão familiarizados com a presença do Saara na vida dos egípcios que foi fácil entender por que este deus, associado às cheias anuais do Nilo, e seu filho, Hórus, eram tão adorados por seu povo. Assim, o passo seguinte, que seria compreender a teocracia egípcia, foi fácil.
Tivemos outra boa experiência de antecipar um conteúdo ao postar um vídeo no blog em que os alunos podiam ouvir, numa belíssima leitura de Paulo Autran, trechos do poema “NavioNegreiro”, de Castro Alves, acompanhado de ricas imagens do filme “Amistad” (Steven Spielberg, 1997).
Além de ser esteticamente interessante, o uso do blog é uma útil ferramenta para o cotidiano dos educadores. Ao produzir textos e trabalhar com fontes históricas nos diferentes sites indicados, são gerados objetos de aprendizagem diferenciados, como enquetes, slides, jogos interativos ewebquests, que são atividades de pesquisa em que todas as informações com as quais os alunos lidam provêm de páginas da Internet.
Contrariando o que normalmente se ouve sobre o uso da Internet pelos jovens, essa iniciativa valoriza o texto escrito. As novas gerações são criticadas porque leem pouco e escrevem mal, tanto na forma quanto no conteúdo. Mas, ao acessar o blog de História, o aluno encontra, num vocabulário acessível, informações que enriquecem seu conhecimento. Comentando, perguntando ou sugerindo, o aluno novamente entra no mundo da palavra, só que agora escrita. Torna-se um coautor. É uma via de mão dupla. São comuns os casos em que postagens nascem ou são modificadas a partir de sugestões deixadas pelos alunos na forma de comentários. E nesse vaivém, o conhecimento é produzido.
Não são só alunos que visitam o site. Encontramos acessos que partem de diversos países: já nos surpreendemos com visitas de internautas da Rússia. Na caixa de comentários, não encontramos apenas contribuições, sugestões ou perguntas de nossos alunos, mas também de educadores e estudantes de outras instituições de ensino. Já nos deparamos com solicitações de textos, imagens ou sugestões para trabalhos a serem realizados por alunos ou mesmo pedidos de colaboração de professores para suas aulas. Nessa democratização de práticas particulares, a iniciativa contribui para o trabalho de outros profissionais do ensino que buscam novos caminhos.
Encontrar comentários dos pais dos alunos também é comum. Eles ficam felizes por poderem acompanhar o trabalho em sala de aula e pelo aumento significativo do interesse de seus filhos. Normalmente, os pais de crianças e pré-adolescentes de 11 a 13 anos, em média, selecionam os conteúdos da Internet ou mesmo proíbem o acesso dos filhos em determinadas ocasiões, como em período de avaliações. Mas com o blog de História é diferente: está sempre liberado pelos pais. Não há dúvida de que estes e outros comentários validam a importância deste espaço virtual no ensino de História.
Com essas experiências, a interação professor-aluno não mais se resume à sala de aula. Os estudantes mostram, orgulhosos, aos familiares e amigos como é interessante e divertido o que aprendem na escola. O orgulho não é à toa: muitas vezes seus comentários são a garantia de uma boa aula naquela semana.
Alessandra Rizzo e Carolina Medeiros são professoras do Colégio Pedro II – Unidade Engenho Novo II (RJ).
Saiba Mais - Bibliografia
LEMOS, André. Olhares sobre a cibercultura. Porto Alegre: Sulina, 2003.
LEVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. São Paulo: Editora 34, 1993.
PRIMO, Alex. Interação mediada por computador: comunicação, cibercultura, cognição. Porto Alegre: Sulina, 2007.
Saiba Mais - Internet
Blog de História do 6º ano
http://hist6anoen2.blogspot.com
Blog de História do 7º ano
http://7anocp2uen2.blogspot.com
MORAN, José Manuel. As possibilidades das redes de aprendizagem (Escola de Comunicação e Artes/ USP)
Antes e depois do ‘blog’
Alessandra Rizzo e Carolina Medeiros