Arqueologia na intuição

Bernardo Camara

  • O jesuíta Pedro Ignácio Schmitz é considerado um dos maiores arqueólogos do Brasil. Mas quando resolveu enveredar por esse caminho, em 1957, mal conhecia os meandros da profissão. Pudera: nessa época, não havia arqueólogos no país. Ele não ligou. Devorou todos os livros que encontrou sobre o assunto e saiu a campo para pesquisar. Não parou mais. “Meus primeiros trabalhos foram amadorísticos. Li e estudei muito por conta própria. O resto, tive que inventar”, brinca.

    Após analisar pequenos sítios no Rio Grande do Sul, Schmitz foi estudar Teologia. Tornou-se diretor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São Leopoldo, e por conta disso, vez por outra viajava até o Rio de Janeiro para ir ao Ministério de Educação (MEC). Acabou conhecendo Rodrigo Melo Franco de Andrade, então chefe do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan, atual Iphan).

    “Todo mês, Rodrigo me dizia: ‘Precisamos fazer o levantamento de sítios arqueológicos do Brasil’. Então, começou a me enviar dinheiro”, conta. Durante onze anos, um cheque mensal do Sphan ajudava o jesuíta na empreitada. Ele saía reunindo interessados, repassava as técnicas que já estavam com mais forma, e juntos iam revirando um Brasil que ficara para trás. “Com o apoio financeiro, fizemos boa parte do Rio Grande do Sul e de Goiás”, conta.

    Hoje, Schmitz é reconhecido como um dos primeiros arqueólogos que atuaram com método científico no Brasil. Mais de 50 anos depois de iniciada uma carreira que nasceu do improviso, o padre venceu a premiação do Iphan que leva o nome de seu maior incentivador: o Prêmio Rodrigo Melo de Franco de Andrade 2009, na categoria Proteção do Patrimônio Natural e Arqueológico. E com os R$ 20 mil recebidos, ele já decidiu o que fazer: “Vou gastar escavando mais alguns terrenos em Santa Catarina”.