Azeite para dar e vender

Cristina Romanelli

  • Os brasileiros ganham este mês o primeiro azeite produzido em terras tupiniquins, durante o Simpósio Mineiro de Agricultura, em Itajubá. A responsável pelo feito é uma fazenda experimental da cidade de Maria da Fé, a 431 quilômetros de Belo Horizonte. As oliveiras já viraram ponto turístico e atraem mais de três mil visitantes por ano. Sem contar a maioria dos turistas, que aparece sem agendar visita.

    Se a tendência é forte por aqui, é ainda mais intensa na região mediterrânea, na Europa, onde surgiram as oliveiras. A maioria dos povos locais incorporou a planta no dia a dia, em representações culturais e até nas religiões. Egípcios e romanos lhe atribuíam valores divinos, e os campeões gregos eram coroados com seus ramos nos Jogos Olímpicos, realizados em tributo aos deuses.

    Há quem diga que a oliveira não é novidade no Brasil. Entre os olivicultores mineiros corre o boato de que as mudas foram trazidas no período colonial, mas o plantio foi proibido para obrigar a colônia a importar azeitonas e azeite de Portugal. Enquanto não se conseguem provas, a versão oficial é de que, ao menos em Maria da Fé, a planta foi introduzida na primeira metade do século XX por fazendeiros portugueses. As grandes oliveiras que enfeitam a praça da cidade há pelo menos 70 anos são uma forte evidência.

    Os estudos da planta começaram na década de 1940, depois que o pesquisador Washington Winglione introduziu mudas de diversas regiões do mundo na fazenda experimental. Mas foi com a criação da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), na década de 1970, que a infraestutura da fazenda se aprimorou e ela intensificou as pesquisas.

    Hoje existe uma associação de olivicultores na região, com 60 membros e cerca de 300 hectares de área plantada. De acordo com Nilton de Oliveira, presidente da associação e coordenador da Fazenda Experimental de Maria da Fé, a produção de azeite foi iniciada em 2008 e tem mantido uma boa média de acidez.

    Segundo Rebeca Couto, sócia da importadora de azeites francesa Oliviers & Co. no Brasil, ainda é cedo para se saber se o país será capaz de produzir óleo comparável ao mediterrâneo. Já para o pesquisador da Epamig Adelson Oliveira, apesar das diferenças de desenvolvimento da oliveira no Brasil, os estudos feitos em Maria da Fé dão conta do recado: “É possível produzir azeite de tão boa qualidade quanto o dos europeus”, afirma.

    Antes que se descubra se o país vai poder competir com Espanha e Portugal, outros estados, como Santa Catarina e Rio Grande do Sul, seguem o exemplo e já têm plantações significativas. Mas um ingrediente torna a produção mineira especial: a quantidade de Oliveiras, com letra maiúscula. Nilton e Adelson compartilham o sobrenome com o maior produtor de azeitonas da cidade, o português Joaquim de Oliveira. “Para trabalhar com a planta tem que ter o sobrenome”, brinca Adelson.