Baleias de prata no céu

Filipe Monteiro

  • Quando despontou no céu naquele 22 de maio de 1930, ele provocou uma saraivada de palmas. Mais de 15 mil pessoas se acotovelaram para ver a chegada do mundialmente conhecido Graf Zeppelin a Recife. O prefeito, Francisco da Costa Maia, decretou feriado municipal. O governador, Estácio Coimbra, escalou Gilberto Freyre, seu chefe-de-gabinete, para dar as boas-vindas aos passageiros e à tripulação.

    A primeira viagem ao Brasil do dirigível que deu a volta ao mundo em 1929 tinha parada certa: a Torre do Jequiá, hoje o único ponto de atracação de dirigíveis ainda existente no planeta. Por sua posição geográfica, a capital pernambucana foi durante alguns anos escala obrigatória das aeronaves que faziam a movimentada rota Europa–América do Sul. Construído pela empresa Herm Soltz & Cia. às margens do Rio Jequiá, o terminal impressionava: um pavilhão de 315 metros quadrados, com sala de embarque, loja de selos e charutos, bar e sala de imprensa, pequena fábrica de hidrogênio e depósito de gás para o abastecimento das naves.

    Mas o que chamava mesmo a atenção era a torre de ferro de 16,5 metros de altura e 3,5 toneladas, presa ao chão por fortes cabos de aço. No Brasil, só havia mais um porto seguro para dirigíveis de grandes dimensões: o Hangar dos Zeppelins, na Base Aérea de Santa Cruz, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Este era o destino final das rotas que faziam a primeira escala em Pernambuco, normalmente procedentes de Paris. Em 1936, a Torre de Jequiá cedeu e foi substituída por outra, com 19 metros de altura. Esta teve uma curta vida útil. Um ano depois, a célebre tragédia do Hindenburg, que se desfez em chamas após ser atingido por um raio nos Estados Unidos, matando 36 pessoas, encerrou de vez a romântica “Era dos Dirigíveis”.

    Segundo o arquiteto e urbanista Fábio Torres, do Iphan de Olinda, a torre foi tombada pelo município em 1982 e restaurada no ano seguinte. Hoje se encontra em área militar, protegida pela 1ª Companhia Independente de Operações Especiais (1ª Cioe) da Polícia Militar de Pernambuco. Recentemente recebeu pintura nova, mas, pelo que se vê, ainda lhe falta um bom serviço de capina. Existem também projetos para a revitalização do manguezal às margens do Rio Jequiá e a criação de um sítio de preservação histórica e ambiental.

    O glamour ficou para trás. Hoje em dia, zepelins só são vistos em final de campeonato de futebol americano, fazendo propaganda de refrigerante. Mas o enfadonho destino não apaga a memória de uma época que conquistou até poetas, como o pernambucano Ascenso Ferreira (1895-1965), que fez questão de registrar sua homenagem:

    Apontou!
    Parece uma baleia se movendo no mar
    Parece um navio avoando nos ares
    Credo, isso é invento do cão!
    Ó coisa bonita danada!
    Viva seu Zé Pelim!