O presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976) e os escritores Guimarães Rosa (1908-1967) e Pedro Nava (1903-1984) foram alguns dos muitos médicos que já trabalharam na Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte. Mas a história do complexo hospitalar começou ainda no século XIX. Para relembrar essa trajetória, o prédio da Maternidade Hilda Brandão, primeira da cidade, será completamente restaurado e abrigará um centro de memória a partir de 2011. Fotografias, documentos, aparelhos cirúrgicos, mobiliário hospitalar e plantas arquitetônicas da época fazem parte do acervo. Uma prévia será exibida até o dia 3 de outubro, durante a mostra de decoração “Morar mais por menos”, que está sendo realizada no local.
O prédio, em estilo neogótico, foi construído em 1916. Ele se assemelha a um dos primeiros hospitais conhecidos: o francês Hotel de Dien, de 1443, da Ordem dos Cavaleiros de Malta. Tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), estava desocupado desde 2006, quando a maternidade foi transferida para o Hospital Emygdio Germano. “A construção estava decadente, com problemas hidráulicos e elétricos. Havia muitas goteiras, infiltrações, tinha inundado tudo lá dentro. Sem contar um dos forros do teto que quase caiu em cima dos bebês”, conta Moema de Sousa Carneiro, coordenadora da restauração e da criação do centro de memória. Segundo ela, um elevador à manivela, da época da construção, também sumiu, mas ainda antes de o edifício ser desocupado.
A história da maternidade e da Santa Casa se confunde com a da inauguração de Belo Horizonte, em 1897. Segundo a historiadora e vice-presidente do Iepha, Maria Marta de Araújo, a capital mineira era ocupada de forma irregular já nos primeiros anos. “Isso fez com que doenças se espalhassem pelas ruas. A iniciativa de criar a Santa Casa surgiu nessa época, mas foi ideia dos moradores, dos médicos”, conta a historiadora. A alta mortalidade de mães e bebês também era um problema, pois os partos eram feitos em casa. A maternidade deu maior conforto às mulheres, mas era destinada apenas à população carente. “As pessoas mais ricas não seriam atendidas ali, mas ajudaram na arrecadação de recursos para a construção. Dona Hilda Brandão, esposa do presidente do estado, foi a principal incentivadora. Tanto que a maternidade leva o nome dela”, diz Maria Marta.
A Santa Casa começa a buscar patrocínio para as obras de restauração a partir de outubro, após a mostra de decoração. Mas algumas reformas já foram feitas nos banheiros, na parte elétrica, na escada e nas colunas do interior. A fachada também está com o tom terroso original. Para dar um gostinho das próximas restaurações, há raspagens nas paredes do hall de entrada que mostram pinturas do início do século XX, feitas também no anfiteatro, onde eram dadas as aulas práticas de cirurgia.
Berço da medicina mineira
Cristina Romanelli