Bonecos em cena

Cristina Romanelli

  • Cena da peça Reunir algumas pessoas na sala, cantar, tocar música e contar histórias em um pequeno teatro de brinquedo. Esta prática, tão comum entre famílias burguesas na Europa do século XIX, chegou ao Brasil com o grupo de teatro Sobrevento, há quase 20 anos. Os profissionais trouxeram também para o país uma adaptação dos tradicionais bonecos de madeira conhecidos como pupi, comuns no sul da Itália. Estes e outros espetáculos com interesse histórico vêm sendo apresentados em vários estados, e estarão em cartaz este ano.

    A peça “Theatro de Brinquedo”, apesar do nome, é voltada para adultos. Foi baseada em “A verdade vingada”, texto da dinamarquesa Karen Blixen (1885-1962), escrito especialmente para o teatro de bonecos. Os atores recriam um sarau do século XIX, mas em uma versão adaptada para o público de hoje. “Nossa inspiração é o teatro de brinquedo da época. Estudamos muito, importamos livros sobre o tema e fomos nos apaixonando. Mas misturamos também outras formas teatrais, criamos uma versão menos ortodoxa”, explica Luiz André Cherubini, diretor do Sobrevento.

    Os pupi italianos tampouco estão em um espetáculo infantil. Eles fazem parte de “Orlando Furioso”, baseado na obra homônima do poeta Ludovico Ariosto (1474-1533). O poema épico tem cenas de lutas entre cristãos e mouros, com braços cortados e cabeças rolando. “Se fossem atores em cena, não seria tão chocante. Os 19 pupi, sustentados por vergalhões de ferro, conseguem mostrar uma brutalidade única”, diz Cherubini. Os bonecos de madeira têm cerca de quatro quilos, quase um metro de altura, e usam armaduras de bronze, cobre e alumínio. Mas o Sobrevento não é o primeiro grupo a trazê-los ao Brasil.

    De acordo com Cherubini, na Argentina há registros de puparis (marionetistas italianos) que teriam passado pelos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro no início do século XX. “A pesquisa histórica nesse campo é muito fraca no Brasil. Na Argentina existem esses registros porque daqui eles foram para lá”, conta o diretor do Sobrevento.  O único registro existente no Brasil é de Dante Santaguida (1924-1983), que veio de Lecce, no sul da Itália, para Londrina, no Paraná.

    Mauro Roberto Rodrigues, professor de Artes Cênicas na Universidade Estadual de Londrina, chegou a ver, em sua infância, apresentações de Santaguida: “Ele chegou aqui por volta dos anos 1940. Tinha um restaurante em Londrina, onde se apresentava com suas duas irmãs. Ele fazia os próprios pupi”. Segundo Rodrigues, professores da UEL estão começando um levantamento histórico sobre Santaguida.

    Os espetáculos criados pelo grupo geralmente são para adultos, mas as crianças têm também seu espaço. Uma opção é “Mozart Moments”, peça feita especialmente para elas e que une atores, bonecos e muita música. Conta desde brigas do compositor austríaco (1756-1791) com a mulher até sua morte. “Os atores usam roupas de época, contracenam com os bonecos e mostram episódios menos conhecidos da vida de Mozart”, conta Cherubini. A peça já foi encenada até no exterior, em 40 cidades da Espanha, além de Colômbia, Argentina e Chile.

     

    Saiba Mais - Internet

    Para conferir a programação do Sobrevento, acesse o site www.sobrevento.com.br.