Brasil, terra dos pterossauros

Angélica Fontella

  • Equipes coordenadas pelo Centro Paleontológico da Universidade do Contestado começaram as escavações em julho de 2012. (Imagem: Paulo Manzig)Encontrar pterossauros no Brasil é relativamente comum. Isto ocorre porque abrigamos a Bacia do Araripe, região situada entre os estados do Piauí, Ceará e Pernambuco, onde já foram reveladas pelo menos 27 das 150 espécies conhecidas do animal. Apesar da alta frequência, achar o réptil alado que viveu há aproximadamente 200 milhões de anos não é tarefa fácil. Descobrir um grupo de indivíduos, então, é quase impossível. Principalmente fora dessa região. Pois foi este o anúncio feito em agosto passado, na revista científica Plos One: encontrada no município de Cruzeiro do Oeste, no Paraná, a camada de ossos composta de, pelo menos, 47 pterossauros é uma ocorrência inédita.

    A história começa em 1971, quando pai e filho, Alexandre e João Gustavo Dobruski, se depararam com o primeiro pterossauro encontrado na região Sul do país. Ao escavarem valetas para o escoamento de água numa estrada rural, identificaram o material e suspeitaram que se tratava de fósseis. “Naquela época, algum tipo de informação deve ter chegado até o Sr. Alexandre Dobruski, para que ele pudesse afirmar com tanta segurança que havia achado fósseis em Cruzeiro do Oeste”, comenta o pesquisador Paulo Manzig, da Universidade do Contestado, um dos autores do artigo da Plos One. A espécie encontrada na região foi batizada em homenagem à família: Caiuajara dobruskii.

    Foram quatro campanhas de campo, de cerca de dez dias cada. (Imagem: Paulo Manzig)Pterossauros não são dinossauros, apenas parentes. Os répteis alados encontrados no Paraná tinham até 2,35 metros de envergadura alar e o formato do seu bico era curvado para baixo, indicando os hábitos alimentares do animal. “Ainda não encontramos excrementos ou conteúdo estomacal que confirmem nossa suspeita, mas esta inclinação do bico sugere que esses pterossauros se alimentavam de frutificações”, explica o professor Alexander Kellner, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que também assina a publicação de agosto. O fato de ser uma acumulação óssea da espécie também ajudou a revelar aspectos da vida do bicho: “Conseguimos provar que o Caiuajara vivia em bandos. Reconhecemos 47 indivíduos no artigo, mas continuamos preparando o material – removendo sedimentos – e já encontramos pelo menos mais 13”, afirma Kellner.

    Segundo o professor, acredita-se que a bacia geológica do Araripe, no nordeste do país, tenha sido uma laguna, com água bastante salgada, de baixa energia. Assim, quando carcaças de animais caíam nos leitos, afundavam e eram soterradas rapidamente. Isso explica por que encontramos “tantos” pterossauros na região. “Animais voadores são muito raros de serem encontrados, pois ficam longe da terra e têm esqueletos frágeis, que raramente são preservados”, explica. Já a região do leito de ossos em Cruzeiro do Oeste, com aproximadamente 400 metros quadrados, teria sido um oásis, o que explica o estado de preservação do material. Além do Brasil, foram encontrados leitos de ossos de pterossauro apenas na Argentina e na China.