Brasília por Athos Bulcão

Bernardo Camara

  • As paredes do Instituto de Artes da Universidade de Brasília, onde Athos lecionou, tomadas por seus azulejos.Basta aguçar o olhar: para um lado ou para o outro, o artista plástico Athos Bulcão (1918-2008) está em todos os cantos de Brasília. No entanto, mesmo às vésperas de a cidade completar 50 anos, ainda há quem não o tenha percebido. Nascidas na capital brasileira, as turismólogas Lana Guimarães, Patrícia Herzog e Tatiana Petra demoraram, mas o perceberam. E não sossegam enquanto não apresentarem a obra do artista a seus conterrâneos.

    Espalhado por jardins, igrejas, edifícios e tudo o mais que pode ser chamado de espaço público, o legado de Bulcão está contabilizado. São 261 desenhos, gravuras, muros e painéis de azulejos que ajudam a dar a cara de Brasília. Lana, Patrícia e Tatiana fizeram a conta na ponta do lápis. Depois de saírem de um curso sobre patrimônio cultural, em 2001, elas despertaram para a importância que Bulcão tem para a cidade.

    “Estudando os artistas locais, o turismo na capital, de repente começamos a ver Athos em todos os lugares aonde íamos. E aí tivemos o estalo: um inventário precisa ser feito”, conta Lana Guimarães.

    O primeiro deles saiu em 2003. Com metodologia própria e uma prancheta debaixo do braço, o trio saiu pelo Distrito Federal anotando tudo o que encontravam. Contaram 160 obras. As outras 101 só foram incluídas em 2009, quando elas já haviam criado a empresa Tríade e conseguiram verba para continuar a empreitada. “Foi o primeiro inventário da obra de Athos em Brasília”, orgulha-se Lana.

    Com o roteiro artístico nas mãos, as três uniram trabalho e prazer e resolveram apresentar a capital pelos caminhos de Bulcão. Foi quando criaram o Circuito Educativo BrasiliAthos. Destinado a crianças do ensino fundamental, o projeto é um passeio – no sentido literal – pelas obras que se integram à arquitetura de Niemeyer, ao urbanismo de Lúcio Costa e ao paisagismo de Burle Marx.

    “Passamos três dias com cada turma e, nesse tempo, falamos sobre Athos, explicamos o que é uma cidade tombada. Como sua arte está fundida com Brasília, por meio dele mostramos todos os outros personagens importantes que temos aqui”, diz Lana, ao ressaltar a receptividade dos alunos: “Athos tem algo alegre, lúdico. Por suas cores e formas, ele consegue uma comunicação direta com as crianças”.

    Voltado para a rede pública de ensino, o BrasiliAthos já atendeu quase duas mil crianças em 15 escolas do Distrito Federal. Pela iniciativa, levou o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade 2009, do Iphan, na categoria Educação Patrimonial. Justamente no ano em que termina o patrocínio que tinha da Petrobras.

    As donas do projeto, porém, não desanimam na missão de levar adiante a obra de Athos Bulcão, e estão atrás de apoio. “O Brasil ainda não tem a verdadeira noção do que é esse artista. Mas, com o tempo, ele será reconhecido”, aposta Lana.