Nada de desertos no Egito ou vilarejos no Tibete. Se Indiana Jones for esperto, vai fazer as malas e vir para o Brasil. As pesquisas arqueológicas por aqui aumentaram muito nos últimos oito anos, graças à fiscalização rigorosa dos estudos de impacto ambiental, obrigatórios antes da realização de grandes obras. Hoje, esse tipo de trabalho já ultrapassa os estudos acadêmicos. Enquanto em 1991 apenas cinco pesquisas foram motivadas por obras, em 2010 esse número deve pular para quase mil. São tantos achados que o Ministério da Cultura já pensa em criar o Museu da Arqueologia Brasileira. Entre as descobertas mais recentes estão artefatos de pedra lascada encontrados em Betim, na Grande Belo Horizonte, onde será construída uma alça rodoviária.
Os estudos de impacto ambiental são obrigatórios desde 1986, seguindo a resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente. Para controlar os trabalhos, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) criou uma portaria em 2002 com orientações mais detalhadas. “Os pesquisadores elaboram um projeto para as construtoras. O Iphan, então, decide se aprova o projeto e depois acompanha todas as fases, até o resgate do material”, explica Maria Clara Migliacio, diretora do Centro Nacional de Arqueologia (CNA) do instituto.
Com melhor fiscalização e mais obras sendo realizadas, o número de sítios registrados no Brasil já passa de 17 mil. No entanto, assim como o colega de Hollywood, os arqueólogos brasileiros têm que correr contra o tempo. Não por causa de pedras rolantes, mas pelo cronograma apertado, que acaba deixando grande parte do material para trás. “O trabalho acadêmico é bem mais lento, até para ter mais segurança nas informações. Já nessas obras, nós não temos como escavar tudo. Acabamos perdendo pelo menos 90% do material”, conta Fernando Marques, arqueólogo e pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi.
Para a diretora do CNA, a única iniciativa capaz de salvar por completo os achados é o tombamento. “A lei só permite que o dano seja menor. As obras não vão deixar de ser realizadas por causa de um passarinho ou do patrimônio arqueológico”. Um exemplo de obra que dificilmente seria cancelada é a construção de duas usinas hidrelétricas de grande porte no Rio Madeira, em Rondônia. No local, foram encontrados sessenta novos sítios, mas muitos vão se perder com a inundação. De acordo com Marques, os achados permitem entender o comportamento de populações antigas. “As peças têm grafismos específicos, evidências de restos de alimentação. Também podemos saber a extensão e a forma dos assentamentos no local”, diz.
Segundo o pesquisador, diversas áreas antes pouco exploradas pela arqueologia, como Rondônia, agora oferecem descobertas inéditas. O lado bom da legislação é justamente impedir que todo o material seja destruído pelas obras antes mesmo de ser conhecido. “Com o pouco que salvamos, entendemos parte do passado. Nós não podemos parar a modernidade. Essas intervenções são inevitáveis”, diz ele.
Saiba mais sobre o Museu de Arqueologia Brasileira no link http://www.rhbn.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=3273
Caçadores de artefatos perdidos
Cristina Romanelli