Quem passa hoje pela Praça da Alfândega, no centro histórico de Porto Alegre, só vê tapumes. E nem imagina que, lá dentro, a equipe do programa Monumenta, do Ministério da Cultura, prepara uma viagem no tempo. No segundo semestre de 2011, grande parte do local estará como nos anos 1940: com bancos, passeios largos e mais espaço para a entrada da luz do sol. Mas a viagem ao passado pode ser ainda maior: no subsolo da praça foram encontrados vestígios do antigo cais, construído em 1856, e da primeira alfândega, que deu nome ao local.
Segundo Briane Bicca, coordenadora do Monumenta em Porto Alegre, a área sofreu uma série de modificações, principalmente a partir da década de 1970. “Os passeios ficaram menores e os canteiros aumentaram. Fora isso, a vegetação ficou mais densa. Tivemos que cortar algumas figueiras-da-índia que chegavam a cinco metros de diâmetro. Os jacarandás, que estão desde o início na praça, ficaram tortos porque não alcançavam a luz”, conta.
Até o ano que vem, também serão realizadas obras de drenagem da água pluvial, de instalação de dutos elétricos, e o número de luminárias será dobrado. Outra modificação foi a destruição da primeira alfândega, ainda no final do século XIX. “Parece que houve uma explosão, pois ela funcionava também como depósito de munições”, diz a coordenadora.
A alfândega foi inaugurada em 1820 e fez com que a Praça da Quitanda, no ano seguinte, passasse a se chamar Praça da Alfândega. Pedras de granito que definem as paredes externas dessa primeira edificação foram achadas a 50 centímetros de profundidade, abaixo de onde hoje está o monumento ao General Osorio.
Também foram encontradas, na mesma profundidade, a murada do antigo cais, as escadarias do porto construído em 1856 e um calçamento de pedras portuguesas. Este teria sido o calçamento da praça por volta de 1940. A equipe pretende continuar as escavações para confirmar se as pedras seguem até o antigo cais.
Mas as descobertas do sítio arqueológico não estarão abertas à visitação. Em breve, os diversos poços de prospecção, de cerca de um metro quadrado, estarão cobertos por uma camada de areia e com o piso normal da praça. “O Iphan acha que o local vai ficar acumulando sujeira”, explica Briane. Grande parte do conhecimento adquirido com a pesquisa e com as escavações feitas pelo programa será disponibilizada aos visitantes. Placas com informações históricas, fotográficas e literárias serão distribuídas pelo local.
Camadas do passado
Cristina Romanelli