Exilado político no Chile e torturado pelo DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna), o cineasta Helvécio Ratton quer contar a história da ditadura militar no Brasil a partir do ponto de vista do torturado. Já sem o olhar apaixonado de um militante, garante ele, o diretor leva para as grandes telas do país, no segundo semestre deste ano, o filme Batismo de Sangue, baseado na obra homônima de Frei Betto, lançada em 1983 e vencedora do prêmio Jabuti. A história começa em 1968, quando os jovens frades dominicanos Betto, Fernando, Ivo, Osvaldo e Tito decidem apoiar o grupo guerrilheiro Aliança de Libertação Nacional, comandado por Carlos Marighella e acabam sendo presos e torturados nos porões do Dops de São Paulo.
Ratton conta que, para humanizar a narrativa, escolheu como personagem central do filme, frei Tito – representado por Caio Blat –, que se enforca aos 29 anos na França, onde estava exilado. “Escolhi Tito por sua história dramática, já que ele não teve a oportunidade de reconstruir sua vida. Depois de sofrer muito nas mãos dos torturadores, já sem esperança de um futuro melhor, vê como única opção o suicídio. Morre afirmando não acreditar mais em Deus, Marx ou Freud”, conta o diretor. “Depois das filmagens, fiquei uma semana sem dormir”, revela ele.
Na trama, não faltam cenas emocionantes. Para o cineasta, a missa que os frades celebraram em 1969, nos porões do Dops de São Paulo, utilizando biscoito Maria como hóstia e refresco de uva como vinho, traduz o espírito pacífico da luta desses dominicanos. Para ajudar os atores a dar vida a seus personagens, antes do início das filmagens, Ratton reuniu o elenco para uma conversa com os frades que ainda estão vivos, como Betto, Fernando e Osvaldo. “Minha preocupação era que os detalhes tivessem importância. O encontro foi muito importante porque todos foram muito francos e expuseram suas vidas”, conta Ratton.