Caminhos da evolução

  • A exposição traz também a reprodução em três dimensões dos traços dos primitivos antepassados humanos. (Divulgação)Quase 7 milhões de anos separam de nós a Humanidade de Toumai, o crânio do primeiro hominídeo a caminhar sobre duas pernas no planeta. Encontrado em 2001 no deserto de Chad, na região Centro-Norte da África, ele foi considerado o fóssil humano mais antigo. Onosso “parente”,da espécie Sahelanthropus tchadensis, já chegou a ser apontado como o “elo perdido” que separou a linhagem humana da dos chimpanzés. A réplica desta e de outras 150 peças importantes para entender o caminho entre nós e os primatas será exibida na mostra “Do macaco ao homem”, em São Paulo. A exposição permanente, em cartaz no Cata-Vento Cultural, começa em março e tem curadoria do antropólogo Walter Neves.

    A composição do acervo demorou 20 anos para ficar pronta. Neves, professor na Universidade de São Paulo, relata que este trabalho foi desenvolvido junto às pesquisas realizadas pelo Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos da USP. “O laboratório é um dos poucos que estabeleceram pesquisas sobre a evolução humana de forma mais ampla”. O antropólogo e sua equipe levaram sete anos para ver a coleção tomar a forma do projeto atual.

    O passo seguinte seria encontrar um local para a visitação do público. Foi assim que surgiu a parceria com o Cata-Vento Cultural. Sergio Freitas, presidente desta instituição, logo se entusiasmou com a ideia. Após investimento de R$ 860 mil do Cata-Vento e de R$ 140 mil do CNPq, “Do macaco ao homem” ganhou um teto: as arcadas subterrâneas do Palácio das Indústrias, sede da instituição. Freitas acrescenta que o espaço subterrâneo era o lugar ideal para abrigar esta exposição. “É como estar em uma caverna”, brinca.

    Cata-vento Cultural: Palácio das Indústrias – Praça Cívica Ulisses Guimarães s/n, Brás, São Paulo-SP. De terça-feira a domingo, das 9h às 17h. R$ 6.

    Segundo os criadores, a exposição explora um assunto ainda pouco conhecido no Brasil, já que a maioria dos estudos antropológicos desenvolvidos aqui está voltada para a chegada do Homo sapiens na América Latina. “Os últimos 30 anos foram importantes para a antropologia. As constantes descobertas de novos fósseis de hominídeos, no continente africano e no chamado velho mundo, trouxeram novas informações para a escala evolutiva humana”, afirma Neves.

    Para ilustrar essas novas descobertas, a exposição foi pensada em oito módulos independentes, nos quais cada fase pode ser explorada pelo visitante. Segundo Neves, a seção mais interessante para quem vai visitar a mostra é a que fala sobre o desenvolvimento da cultura na vida primitiva, ou seja, quando despontaram as pinturas rupestres e as primeiras ferramentas. “A arte surgiu abruptamente há 45 mil anos e junto com ela veio uma explosão da nossa capacidade criativa”.

    Foi a partir do surgimento da arte que o ser humano começou a desenvolver pensamentos mais complexos. “Foi nesse momento que criamos a linguagem e a escrita”, explica o antropólogo. “Do macaco ao homem”mostra os caminhos que nos levaram de Toumai até as primeiras pinturas rupestres, quando começamos a dar os primeiros passos que nos trouxeram até aqui.