Caminhos que se cruzam

Luciano Figueiredo

  • Portos coalhados de imigrantes, hospedarias entupidas de trouxas e baús esquecidos após a longa travessia, estradas fervilhando com gente de todos os feitios, atirados em planaltos de florestas e bugres. Enquanto cidades são povoadas com suas primeiras fábricas, músculos arrastam pesadas cargas ao largo das casas. Tudo isto embalado por muitas vozes de uma babilônia fundada no Brasil e que atraiu homens e mulheres naturais de uma estranha pátria chamada Itália.

    É para este universo de caminhos que se cruzam há mais de um século de permanente mudança que a Revista de História convida sua leitura.

    A fotografia da capa revela as conquistas de uma dessas famílias, cuja determinação venceu os portos, as estradas e o planalto para ostentar, com orgulho indisfarçável, a boa colheita que será convertida em vinho. O reino que serve de berço aos imigrantes será apresentado por Antonio de Ruggiero, que é capaz de explicar o intenso e complexo processo de unificação da península. Desse labirinto de culturas sob uma mesma bandeira brotam as famílias espalhadas ao capricho da sorte nas províncias brasileiras. Essas experiências tão variadas estão em textos sobre a chegada dos italianos ao Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Amazônia e, naturalmente, São Paulo, onde ficariam grudados à pele da cidade. Neste cenário, Rubens Ricupero segurou o tempo de sua infância em um relato comovente, repleto da emoção dos encontros e surpresas nas ruas do Brás. Ao jornalista Pedro Paulo Malta não escapou o fascínio e as lições com que os italianos nutriram a cultura brasileira.

    São estes alguns dos ingredientes do dossiê “Italianos no Brasil”, no qual estão recolhidas lembranças de quem, à distancia, evoca um tempo e um lugar que não existem mais. Eles sãos encontrados apenas na memória, morada das paisagens invisíveis.