Cangaceiros

Élise Jasmin


  • Quando morreu Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião, encontrou-se um grande número de fotografias sob seus trajes. Entre as imagens de pessoas próximas ao “rei do cangaço”, havia uma de João Bezerra, seu assassino. Nas palavras de Élise Jasmin, é “como se [Lampião] tivesse feito de seu corpo o suporte e o território de sua memória”.

    Ressalte-se que isto não se deu por acaso; Lampião – “manipulador, estrategista, dotado de um senso inato de comunicação” – soube como poucos se utilizar do poder da fotografia, em especial quando estampada nas páginas da imprensa, que ajudavam a torná-lo onipresente. E mesmo perto do fim de sua “carreira”, quando – depois de aterrorizar sete estados nordestinos – optou por uma vida sedentária, “sua imagem circulava em grande parte do sertão, como um corpo figurado que vinha substituir simbolicamente o corpo real do guerreiro que antes percorria a região”.

    O livro apresenta pela primeira vez uma extensa série de fotografias de Lampião e seu bando, com destaque para o trabalho de Benjamin Abrahão, que filmou a rotina do cangaceiro durante seis meses, em 1936. Em seguida, uma série de fotos da repressão ao cangaço, demonstrando que, além dos duelos no sertão, travou-se igualmente uma verdadeira “guerra de imagens” através da imprensa, intensificada após o advento do Estado Novo, quando, incluído na categoria dos “extremistas”, Lampião passou de inimigo do sertão a inimigo do Brasil.

    Em seu breve relato, a autora procurou decifrar os códigos distintos existentes nas imagens, possibilitando assim uma leitura mais profunda de cada documento. Mesmo sem explorar todo o seu potencial, sua contribuição é considerável e certamente fará desta obra uma referência obrigatória.

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    Joaquim Marçal é pesquisador da Divisão de Iconografia da Biblioteca Nacional e professor de fotografia da PUC-Rio.