Canto do canto

Alice melo

  • Um quarteirão separa a sede da Biblioteca Nacional, no Centro do Rio de Janeiro, de sua Divisão de Música, que abriga um dos maiores acervos sobre música e dança do país. São mais de 220.000 itens, entre livros, manuscritos, fotografias, partituras, discos de vinil, fitas cassete e CDs. Tudo armazenado no terceiro andar do Palácio Gustavo Capanema, que dispõe de espaço para pesquisa, sala para reprodução de material em áudio e até um piano para livre utilização do público. A Divisão está completando 60 anos, mas ainda permanece pouco conhecida até mesmo pelos frequentadores da sede da BN. A distância entre os dois prédios, portanto, é maior do que parece.

    O aposentado Cláudio do Lago conta que vai de vez em quando consultar alguns livros no setor de Obras Gerais da biblioteca, mas nunca soube de uma seção especializada em música. “Eu não presto muita atenção nas coisas, não entro muito na Internet. Não sabia disso. Tem mesmo discos?”. Tem. E muitos.

    A separação dessa Divisão do restante da biblioteca ocorreu em meados da década de 1980, quando um andar do palácio modernista que fica na Rua da Imprensa vagou e o Ministério da Cultura abriu as portas para o acervo, que crescia a cada dia. Antes de se instalar no novo endereço, a seção funcionou no corredor do 5° andar da BN e no subsolo do prédio. Quando foi transferida para o Palácio Gustavo Capanema, já faziam parte do acervo as coleções Abrahão de Carvalho, Imperatriz Thereza Cristina Maria e Conde da Barca. E também obras avulsas importantes, obtidas por doações, como a partitura da ópera “O Guarani”, de Carlos Gomes, composta em 1870; “Ocorta-jaca” (Ogaúcho), maxixe de Chiquinha Gonzaga, de 1912, ou mesmo um livro de música sacra impresso sobre pergaminho no início do século XVII, Arte de cantochão.

    Elizete Higino, chefe do setor, explica que, em geral, os visitantes são músicos ou musicólogos que conhecem previamente os serviços oferecidos. “Nosso acervo é muito rico, mas por ficarmos um pouco escondidos, fora da rota da visita guiada, não recebemos muitos curiosos. Se tivesse como, colocaríamos o piano lá embaixo com uma placa: ‘Toque à vontade’. E, ao lado, outra que diga: ‘Este piano é da Divisão de Música da BN. Se gostou, venha nos conhecer!’”.

    Para divulgar mais o material, os funcionários estão se preparando para lançar, ainda este ano, uma página na web sobre a Divisão, armazenada no site oficial da biblioteca – que, apesar de fornecer aos internautas algumas informações e curiosidades sobre a seção, não chama atenção, por exemplo, para o fato de ela estar localizada em outro prédio. No portal haverá exposições virtuais, uma espécie de expansão das que já ocorrem todos os meses no hall da divisão, com textos sobre a importância das peças armazenadas ali e informações históricas. A pesquisa presencial no setor é igual à das outras divisões da BN: há microfilmes, livros de referência, documentos disponíveis para o interessado e alguns arquivos sonoros para quem quiser consultar.  E, claro, tocar à vontade.

    Saiba Mais

    A Divisão de Música da BN funciona no 3° andar do Palácio Gustavo Capanema, na Rua da Imprensa, 16 – Rio de Janeiro.

    www.bn.br