Carta do Editor - Nº16

Poucas certezas são tão inabaláveis como a exigência de soberania para que as nações permaneçam. As páginas adiante revelam que esse princípio esteve sempre sendo provocado, tamanha a intensidade das trocas que o país estabeleceu com o mundo além de suas fronteiras.

Do México, tema do artigo de Carlos Alberto Sampaio Barbosa, as notícias da ascensão popular com a Revolução de 1910, agitam a imprensa e exigem um posicionamento diante das surpresas. Liane Maria Bertucci se aproxima da devastação que causa a chegada da gripe espanhola, importada nos navios que chegavam da Europa. Diante da inação do Estado prosperou a criatividade dos interesseiros. As idéias autoritárias sob influência do nazismo e do fascismo, traduzidas pelos integralistas, empurram algumas mulheres mais entusiasmadas para um caminho de retrocesso, assunto sobre o qual escreveu Giselda Brito Silva. Estampada na capa da Revista de História um dos resultados cruéis das guerras européias, que jogaram nas ruas do Rio as “polacas”, traficadas da europa oriental. As formas de solidariedade comunitária ocupam o estudo de Beatriz Kushnir

O sensível Eliseu Visconti, artista apresentado no artigo escrito para a seção Perspectiva por Ana Heloisa Molina, com sua delicada complexidade não fez mais que responder com originalidade às crises sociais e morais que a modernidade impunha.

O entrevistado deste número não também fugiu dos desafios que as relações internacionais apresentam. O historiador Kenneth Maxwell fez mais: tornou-se um dos seus grandes estudiosos, capaz de oferecer respostas originais e julgamentos ásperos àqueles que ferem os direitos humanos e desrespeitam nações soberanas.

Esse processo natural de trocas abalou tradições, renovou debates, inflou ideários, depurou enganos. Mas, decididamente, confrontou sem tréguas os dilemas em torno do respeito aos valores humanos universais. Parece que não pode ser de outro modo que deve respirar e pulsar o “corpo e alma” de uma pátria.

Luciano Figueiredo