Se andasse pelas ruas do Brasil de hoje, Heródoto talvez se espantasse. Mais que isto: teria orgulho. A História ocupou as calçadas, exposta alegremente nas capas de revistas, em bancas de jornal país afora. Leitores podem escolher diferentes abordagens, variedade de assuntos e de linguagens.
Pela quantidade de publicações do gênero, esta avidez pelo passado parece até satisfeita, mas não saciada. A popularização do conhecimento da História, especialmente a do Brasil, exige trabalho editorial cuidadoso, para não se escorregar na simplificação, no sensacionalismo e na vulgarização.
A Biblioteca Nacional se entrega a um novo desafio ao lançar este primeiro número da sua Revista de História. Os leitores não poderiam estar, aqui, em melhor companhia. Ele oferece páginas de uma alquimia ao mesmo tempo original e consagrada: um fabuloso acervo, os historiadores talentosos de seu Conselho de Pesquisa e a secular experiência com a memória nacional. Não é pouco. Ainda mais porque não é a História acadêmica, emparedada e rançosa que se quer divulgar, e sim matérias simples, saborosas e instrutivas, que semeiam o conhecimento e estimulam a reflexão.
A revista, como não poderia deixar de ser, vai espelhar a diversidade que marca a riqueza cultural do país e multiplicar os leitores que a Biblioteca Nacional atrai e estimula.
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A animação com este projeto está refletida na edição que você irá conhecer; uma celebração coletiva de fé neste ofício delicado de combinar crítica, consistência e boa narrativa.
No tema de capa Lilia Schwarcz nos convida a embarcar na viagem que a família real portuguesa realizou rumo ao Brasil, em 1807. Os preparativos, as surpresas, apreensões e testemunhos dos viajantes pulsam naqueles dias agitados que o artigo resgata. Seguem-se outras leituras inéditas de nosso passado. O texto de Caio Boschi sobre as irmandades nas Minas do ouro, a visão original de Alberto da Costa e Silva sobre nossas origens africanas, além de revisões de noções consagradas, como a interpretação que José Murilo de Carvalho dá ao positivismo, embalam, entre outros textos, este número.
A travessia da família real inaugurou uma fase decisiva para os rumos do Brasil. Foi por causa desse evento que aportou nestas terras tropicais a Biblioteca Real, alicerce da atual Biblioteca Nacional. Esta revista pretende ser um ancoradouro onde os leitores se recolham e se abasteçam de conhecimento para a longa aventura através da História.
Carta do Editor - Nº 1
Luciano Figueiredo