A capacidade que a História tem de se reinventar é notória. Mais que um bordão, este desafio talvez seja o que mais encante aqueles que convivem com essa senhora cheia de caprichos.
Velhos temas cobram novas abordagens, assuntos inusitados ganham escala, pinturas revelam intenções à primeira vista insuspeitadas, a poesia de combate parece não ter compromisso com a realidade factual.
Então temos nesta edição surpresas assim. Em seu artigo, Ligia Bellini invade as relações cotidianas dos escravos com seus senhores na Bahia para encontrar ardis e cumplicidades convertidos em alforrias. A aposta de Felipe Magalhães é nas inversões que o jogo do bicho atravessa, confundindo-se com a cidade e suas vertigens. A pintura histórica de Antônio Parreiras, sob a crítica de Valéria Salgueiro, revela esforços de persuasão que dirigem o olhar para um estranho passado, tão sereno e ordenado. Alberto da Costa e Silva encontra em “O Navio Negreiro”, de Castro Alves, descrições sobre a África bem distantes das paisagens de onde partiram os cativos que o poeta defendeu.
Se o leitor quiser tocar de outra maneira essa metamorfose incessante que a Revista de História não se cansa de traduzir, a entrevista deste número é sugestiva. O percurso de um professor como Ilmar Rohloff de Mattos, discreto semeador de histórias, nos aproxima do âmago desse processo. Nas salas de aula ele encontrou outros professores, os alunos com os quais tantas vezes reconstruiu o passado.
Há 12 números a Revista de História também se reinventa. Neste aniversário, queremos dividir com os leitores as alegrias colhidas até aqui.
Carta do Editor - Nº 12
Luciano Figueiredo