Carta do Editor - Nº 19

Luciano Figueiredo

  • Bem que Tiradentes avisou. Diante das perguntas dos juízes do inquérito que sofria pelo seu envolvimento na conspiração contra o domínio português em Minas anunciou, em um de seus instantes de grande lucidez: criaria tal embrulhada que nem em vinte, nem em cem anos, ela seria desatada. Estamos longe de desmentir o alferes. A inconfidência mineira é assunto dos mais intrigantes e a vida de um de seus mais destacados líderes também.

    A Revista de História preparou especialmente para este mês um amplo painel que equilibra a vida desse personagem, as circunstâncias da conjuração e a memória que chegou até nós. Se você imaginava conhecer essa história, prepare-se para o que vai ler adiante.

    Um pinga fogo com alguns historiadores dedicados a desatar a meada que o alferes anunciou responde a perguntas precisas sobre o episódio. A reportagem de nossa redação revela um documento raro com detalhes do comportamento afetivo de Joaquim José da Silva Xavier. O artigo de Anita Correia Lima de Almeida estica os fios ao mostrar a inconfidência também chegou a Índia, onde um inquérito e uma repressão bem mais cruel parece ter cauterizado mais uma crise no império colonial português. E José Murilo de Carvalho acompanha a incansável imaginação que se projetou na figura de nosso herói, prova maior de sua nacionalização.

    Na seção “A História do Historiador”, Adalgiza Arantes Campos, oferece seu depoimento de grande conhecedora da cultura do barroco no qual indica o que verdadeiramente sensibilizou os homens daquele tempo no espetáculo da morte do alferes.

    Uma situação de ruptura iminente faz despertar do ritmo rotineiro da vida. Talvez por isso os movimentos de rebeldia mereçam sempre um lugar todo especial quando se quer falar do passado.
     
    Luciano Figueiredo