Qualquer história tem percursos obrigatórios. Nas páginas seguintes, visitamos alguns deles: a Europa da Primeira Guerra Mundial, os gramados da França em 1938, as montanhas mineiras do século XVIII, as fronteiras gaúchas. Na volta dessa viagem, trazemos um país novo.
No dossiê dedicado à Grande Guerra, assiste-se aos principais episódios dos conflitos em escala global que opuseram as potências centrais e os aliados. Percorrem-se trincheiras sob o dramático cotidiano dos soldados, a retaguarda com a presença das mulheres e a insensatez dos generais.
O Brasil, ainda que com participação modesta, aprenderia lições e sofreria mudanças decisivas. A diplomacia, graças às pressões internas, não consegue manter posição de neutralidade e se vê confrontada com as limitações da infra-estrutura bélica diante da iminência de conflitos internacionais que batiam nas costas americanas. A trágica missão naval brasileira de apoio aos aliados é um retrato pungente dessa precariedade, e a imprensa acompanha como pode os explosivos acontecimentos da Europa.
Quando muda o campo do conflito, na Copa do Mundo de 1938, na França, o desempenho do Brasil seria diferente. Chegamos desacreditados, mas ao bater sucessivos adversários, começamos a chamar a atenção da imprensa local. Nem sempre elogiosa: nosso estilo “improvisado e artístico” era condenável, coisa de um povo incivilizado em tempos de rígida organização tática.
Temos experiência em combates caóticos. A Guerra dos Emboabas, que confrontou paulistas e forasteiros no sertão mineiro, tornou-se um dos marcos do nativismo, mas não tinha qualquer ideal libertador: a disputa era por ouro, e só. Na entrevista deste número, a professora Helga Picollo, ao tratar da formação do Rio Grande do Sul, reivindica o necessário equilíbrio entre a força das guerras de fronteira e a integração com o país.
Tradição e atualidade, região e nação. Dentro ou fora, as diferenças enriquecem o orgulho nacional ao mesmo tempo em que nos ajudam a pensar: quem somos hoje?
Carta do Editor - Nº 37
Luciano Figueiredo