Carta do Editor - Nº 38

Luciano Figueiredo

  • Para quem gosta de garimpar boas histórias, folhear esta edição é vasculhar uma arca de preciosidades.

    Revelações inéditas sobre a riqueza arrancada de montanhas e rios no período colonial vêm à tona. Qual o volume de ouro enviado para Portugal ao longo do século XVIII? Afinal, a metrópole se beneficiou ou deixou escapar por entre os dedos o Eldorado que o Brasil ofereceu? Que transgressões e crimes “a sede insaciável do ouro” provocou? As respostas aparecem nas páginas do dossiê. Pesquisadores brasileiros e portugueses mergulharam em arquivos, descobriram documentos e fizeram artigos que apresentam conclusões impressionantes.

    Temos ainda a companhia de um historiador que conhece como poucos essas histórias. A.J.R. Russell-Wood foi fisgado quando revisitava Ouro Preto, e concedeu uma entrevista especialmente para a RHBN. Defende a existência de uma “cultura da evasão”, que fez com que ricos e pobres dividissem os ganhos da riqueza colonial, e não deixa dúvidas sobre as trocas culturais que ajudaram na formação do país.

    Outras bossas mostram que não faltam riquezas no nosso passado, cravadas em datas precisas. Os 50 anos da bossa nova são devidamente celebrados com interpretações muito particulares: a poesia e a harmonia das novas canções invertem a tendência ao sofrimento amoroso até ali cultivada, e o bebop americano influenciou misturas muito além dos registros que ficaram consagrados. Os 30 anos das greves operárias do ABC paulista, no ocaso da ditadura militar, também estão presentes. Mesmo porque pavimentaram o caminho para que um daqueles líderes sindicais chegasse ao posto mais alto da República.

    As surpresas sempre têm vez na História.