Nunca se celebrou tanto como neste ano, que se encerra na próxima esquina. Nutrido de comemorações, 2008 foi um corre-corre aflito ao redor do calendário, que a cada mês reservava um ou vários aniversários.
Nada mais adequado, portanto, do que reservar para esta edição uma visita ao fiel guardião da memória brasileira, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, ou simplesmente IHGB. A sigla discreta abriga desde 1838 um acervo de experiências e projetos que ajudam a forjar nossa maneira de pensar o passado.
Mas sob nossa História há também silêncios, alguns inexplicáveis. Para muitos de nós, as relações do Brasil com a África são pálidas referências, evocadas nas origens de algumas palavras cotidianas ou na trágica memória da escravidão e do tráfico negreiro. Sob o signo do fascínio ou da desgraça, mantivemos com uma parte daquele continente um passado comum que é imperioso recordar.
Estudiosos de um tema que cada vez mais mobiliza os historiadores escrevem adiante sobre os séculos que aproximaram as margens do Atlântico. Nos tempos da escravidão, Angola alimentou a América de braços, tradições e saberes milenares. No fluxo e refluxo que marcou essas relações, não escapou de acolher produtos brasileiros, apoio militar e influências culturais. Por pouco Angola não fez parte do país que nasceu da separação com Portugal, e quando foi a vez de Angola se libertar, no século seguinte, lá estava o Brasil apoiando a luta anticolonialista. Por tanto passado comum, por tantas feridas ainda abertas de uma fraternidade sem clemências, não se pode pensar um país sem o outro.
Quem sabe a música que Chico Buarque dedicou a certa “morena de Angola”, camarada do MPLA que o compositor não sabia “se mexe o chocalho ou o chocalho é que mexe com ela”, não é a melhor das metáforas?
Carta do Editor - Nº 39
Luciano Figueiredo