Carta do Editor - Nº 42

Luciano Figueiredo

  • Neste momento há um delito em andamento. Um suborno e um julgamento. E hoje nem é sábado, como no “Dia da Criação” que inspirou Vinicius de Moraes. Esta rotina se repete todos os dias da semana.

    Há malas que viajam com dinheiro vivo e copos de puro scotch celebrando negócios, num “frenesi de dar banana”. Há um vidro de automóvel que se recolhe ventilando a “cervejinha” que dribla multas de trânsito; “umas difíceis, outras fáceis”. Um magistrado que lavra uma sentença de costas para o código jurado nos anos de inocência. Para trás ficou qualquer “sensação angustiante”.

    Sussurros ao pé da orelha, tapinhas nas costas, fórmulas jurídicas engenhosas e gírias com a sonoridade ladina cadenciam o cotidiano do submundo.

    Crime ou costume? A leitura do dossiê “Corrupção” é desconcertante, especialmente para aqueles que acham na história um bom álibi para nossa cupidez. Seus artigos revelam que apesar dessa palavra viajar no tempo ela não carrega significados similares. Tampouco tais condutas sobrevivem desde a carta de Caminha transformando-se até alcançarem os dias atuais, como vícios de origem. Outros textos ilustram o humor, nas sátiras de jornais, e o terror, nas ações dos ditadores, alimentados pelos delitos de funcionários e autoridades. Opiniões de estudiosos mobilizados pelo tema sugerem saídas com base na virtude republicana e avaliam até o velho “jeitinho brasileiro”. Parece que existe “a perspectiva do domingo”.

    Afinal, nem sempre foi negativa a fatura das relações entre o público e o privado. Exemplo disso foi Raymundo Castro Maya, no Rio de Janeiro, onde investiu fortunas para criar em sua chácara uma galeria de arte aberta ao público, como sugere a reportagem de Claudia Bojunga. Ou Athos Bulcão no planalto central, quando Brasília ainda respirava utopias, que criou painéis com a geometria e as cores da democracia, como explica Elisa Martínez. E se isso não bastasse há meninos e meninas desfrutando a liberdade de aprender no sertão do Cariri, lembrados por Cláudia Cury e Isabelle Noronha.

    “E dando os trâmites por findos”, um bom domingo.