As qualidades e os perigos do chocolate todos conhecem. O que poucos sabem é como se desenrolou a história deste doce pecado.
A tentação chega em pedaços. Suas origens são apresentadas por Eddy Stols, que revela a trajetória do cacau, do México às mais finas receitas européias. Um antigo painel espanhol com o sugestivo nome de “Xocolatada” dispensa apresentações, tamanho o cerimonial armado ao redor de xícaras e bules com o saboroso néctar americano. Os cortesãos não resistiram. Georgina Santos aproveita a proximidade da Páscoa para mostrar como, entre nós, a Quaresma perdeu o sentido de recolhimento e virou um período de grandes festas e procissões. Bem longe da religião, mas perto da fortuna, o trabalho de produção do cacau criou na Bahia um universo de sonhos e fausto. Lucia Maria Guimarães encontrou as primeiras descrições feitas por viajantes estrangeiros, encantados com a natureza, perplexos com a “indolência” nativa. E Antonio Guerreiro celebra os romances de Jorge Amado, onde a vida ao redor das fazendas de cacau foi retratada e conquistou o mundo.
Outras histórias encantadoras de tempos e cidades perdidos se espalham adiante. Eulalia Junqueira descreve a beleza de estátuas e chafarizes, que já ocuparam grandes espaços de um Rio de Janeiro desaparecido, assinados por franceses, outrora donos do padrão estético que refletia civilidade. Também francês era o figurino que as mulheres vestiam na capital há cem anos, descreve o artigo de Rose Esquenazi.
Aproveite para conhecer ainda a curiosa e trágica história de uma cidade que cruzou o Oceano Atlântico. Mazagão, praça militar norte-africana, foi parar no coração da Amazônia, conforme a pesquisa de Laurent Vidal.
E ainda que o entrevistado deste número, István Jancsó, desconfie dos heróis, dois deles ainda são capazes de surpreender: Tiradentes e Marcílio Dias, que combateram por bons ideais.
Leia sem culpa.
Carta do Editor - Nº 43
Luciano Figueiredo