Este mês, a revista chega embalada pelos festejos juninos, cercada de bandeirolas e iluminada por uma fogueira de múltiplos sentidos. Que ligação pode ter o nascimento de um santo profeta com as celebrações profanas da colheita? Como o fogo do pecado pode virar fogo da purificação e se misturar harmoniosamente com um ancestral fogo indígena? A surpreendente história de São João – o santo e sua festa – é apresentada no artigo de Luciana Chianca. Da Europa, D. João traz as tradicionais danças de quadrilha, que no século XX deixariam de ser nobres para ganhar a cara do Jeca Tatu. Profana e libertária, por mais que a Igreja tenha tentado trazê-la sob rédea curta, hoje a festa é a cara do Brasil: das águas do Pantanal aos terreiros da Bahia, do cururu indígena às brasas de Xangô, dos grandes shows que arrastam multidões à preocupação ambiental com os balões e o desmatamento... São João nunca para de incorporar novos elementos, e o melhor: sem perder os antigos. Este é o mosaico apresentado pela reportagem de Lorenzo Aldé.
Outra apuração jornalística traz à tona uma festa diferente. Esta preparada pelos moradores de um povoado mineiro que, depois de muita luta, conseguem reaver objetos de sua fé, levados embora há quase 40 anos. Claudia Bojunga é quem conta a estranha história da capela que foi arruinada e teve suas peças levadas para decorar o cenário religioso de uma empresa.
Mas não é só em torno de festas e da luta pelo patrimônio que homens e mulheres se reúnem. Vitor Marques Fonseca descreve as combativas associações que povoaram o Rio de Janeiro no início do século XX, assegurando a imigrantes, prostitutas, comerciários e muitos outros grupos um espaço para resistir aos abusos e lutar por seus direitos. Muito antes de qualquer legislação trabalhista.
A união faz a força, faz a festa e faz história...
Carta do Editor - Nº 45
Luciano Figueiredo