Carta do Editor - Nº 48

Luciano Figueiredo

  • Com quantas províncias se faz uma Independência? Quem respondeu três, lembrando de Rio, Minas e São Paulo, fez a conta errada.

    O dossiê “Independência” – maneira que a RHBN encontrou para celebrar esse acontecimento fundador do país – apresenta um espantoso quebra-cabeça de pátrias que enfrentaram de modo e em ritmos muito diferentes o desafio de largar o domínio de Portugal.

    Já era hora de deixar as margens plácidas do Ipiranga e seguir em direção a uma história que poucos conhecem. Exceto aqueles que se dedicam, a partir de suas regiões, à complexa tarefa de buscar novos rumos quando o tempo virou e a metrópole se tornou uma companhia aborrecida para alguns grupos do imenso arquipélago que se chamava Brasil. São justamente pesquisadores de Pernambuco, Piauí, Bahia e Pará. Sem esquecer os do Sudeste. É um enredo que transcorre sem roteiro prévio, cheio de sangue e repleto de projetos.

    Em Pernambuco, a “junta dos matutos” se digladia com federalistas. No Piauí e no Grão-Pará, as forças ficaram divididas entre aqueles que aderiram ao Rio de Janeiro e outros que permaneciam presos a Portugal. Na Bahia, escravos queriam que a liberdade não fosse apenas para os senhores. A memória desses acontecimentos está viva por ali, como na celebração anual em que se festeja a Batalha do Jenipapo, no Piauí. A lembrança ficou também eternizada nas retinas, segundo Lilia Schwarcz, que examina a pintura “Proclamação da Independência”, colírio que ofusca as gentes que fizeram aqueles dias tumultuados.

    Há mais surpresas adiante. A entrevista apresenta um historiador que rompeu a casca e levou a disciplina para além dos muros acadêmicos. Simon Schama merece ser ouvido por aqui, no momento em que se descobrem novas formas de apresentar a História para o grande público. “Sou um contador de histórias que busca questionamentos”, ele diz.

    Não poderia faltar em nossa revista.