País charmoso, a França: berço dos ideais de liberdade, referência na moda e modelo da civilização burguesa. Não são poucos os empréstimos que o Brasil deve aos franceses.
Houve um tempo, porém, em que as coisas foram bem diferentes e a memória, com seus caprichos, cuidou de adoçar. Tempos em que o mar era cenário de sangrentas batalhas, e os trópicos e seus habitantes eram disputados por interesses de toda sorte.
Por pouco os franceses não plantaram um vice-reinado em pleno coração do Brasil Colônia. A revelação surpreendente está em um dos artigos do Dossiê França. Luís XV, farto da neutralidade portuguesa e de olho esticado para o Atlântico Sul, despachou espiões, armou seus melhores oficiais e suas poderosas esquadras para tomar posse e estabelecer um governo francês no Rio de Janeiro. Escapamos por pouco.
Antes de se conhecer em detalhes esse plano ambicioso, vale a pena revisitar suas tentativas de organizar experiências religiosas por aqui. Aos pés do Pão de Açúcar estava a França Antártica, um verdadeiro ninho de hereges, segundo o julgamento dos portugueses católicos. As brigas internas provocaram um curto-circuito no empreendimento que facilitou sua destruição pelas forças portuguesas. Mais ao norte, outra tentativa. Um dos artigos conta a singular formação da França Equinocial no Maranhão, onde nobres apostaram suas fichas para semear a fé e bons negócios. Chegaram a levar uma comitiva de tupinambás para desfilar em Paris diante de espectadores incrédulos. Não era a primeira nem seria a última vez que os habitantes da América iriam para a França, e, segundo outro de nossos autores, chegaram a deixar descendência.
Eram os franceses argonautas?
Carta do Editor - Nº 49
Luciano Figueiredo