Um verdadeiro conto de fadas. Foi assim que se desenrolou a história da relação entre os homens e os animais que passariam a habitar os lares modernos.
De maravilhosos monstros, demônios perversos ou figuras com poderes mágicos, cachorros e gatos viraram xodó e amparo afetivo de multidões. A mudança não veio só. A valorização do mundo natural e a progressiva descrença na magia garantiram o ambiente propício para os animais invadirem o universo privado da civilização. Afinal, o tratamento que os homens dão aos outros seres diz muito sobre a sua própria sociedade.
Desde os primeiros dias da colonização do Brasil, a aproximação entre as culturas pôde ser vista por meio da interação com os bichos. O encantamento europeu com o Novo Mundo, apresentado nesta edição por Lilia Schwarcz, se manifestou no grande interesse por nossas aves coloridas e tagarelas. Os índios, por sua vez, acabaram por incorporar às suas culturas os animais domésticos trazidos da velha Europa, mas nunca os consideraram seres inferiores ou carentes de vontades, como escreve Oscar Calavia Saez. É esse rico processo de encontros que motiva o dossiê Animais Domésticos preparado para esta edição.
Os encontros, aliás, nunca são naturais. D. Pedro I, o jovem viúvo imperador do Brasil, penou para encontrar uma segunda esposa por causa das humilhações públicas às quais submeteu sua primeira mulher, como demonstra Claudia Thomé Witte em saboroso texto. Já a união entre Francisco Julião e os agricultores pobres nos anos 1950 foi o “encontro da chispa com a palha seca”, revela Vandeck Santiago, e colocou as Ligas Camponesas na mira do governo brasileiro e da CIA.
Encontros e desencontros, portanto, dão ritmo à História e recheiam esta edição comemorativa do quinto ano da nossa revista. Boa leitura.
Carta do Editor - Nº 60
Luciano Figueiredo