Algumas das páginas que se abrem a seguir podem causar apreensão, mesmo para os leitores mais destemidos. Afinal de contas, não são agradáveis as impressões sobre certo período de nosso passado, quando nos aproximamos muito de ideais felizmente varridos do horizonte, como o fascismo e o nazismo.
Para tornar segura e convidativa essa experiência de leitura, convocamos alguns pesquisadores para compor o dossiê desta edição dedicado ao integralismo, versão nativa dos movimentos autoritários, racistas e violentos que devastaram o mundo no século passado.
Em que pontos chegamos perto das ideias de Hitler e de Mussolini? Onde nos afastamos? Quem eram os líderes, como agiam e se ajustavam à paisagem local? O que chegou até hoje desse pesadelo?
O que merece evocação este mês é, isto sim, motivo de alegria para a Revista de História: o bicentenário da Biblioteca Nacional. Em seu artigo, Lilia Schwarcz acompanha a viagem para o Brasil da biblioteca dos reis e da corte de Portugal e o processo de sua transformação em um acervo de todos os cidadãos. Convertido em palácio da leitura, preservando um acervo notável da memória universal, difundindo conhecimento para o país inteiro, a instituição que empresta seu nome a esta Revista é também festejada por leitores que frequentam suas salas e corredores.
A esta festa compareceu o diretor da Biblioteca de Harvard, uma das maiores e mais importantes do mundo, fazendo alguns alertas fundamentais para os dias que correm. Na entrevista deste número, Robert Darnton debate os riscos do monopólio da digitalização dos livros e defende a velha ideia de uma república de leitores.
Se algumas ideias naufragam, outras não param de se agitar, como as ondas do mar que há duzentos anos trouxe um verdadeiro tesouro para cá.
Carta do Editor - Nº 61
Luciano Figueiredo