Todos os grupos humanos se relacionam com o passado. A memória que guardamos dos indivíduos que viveram antes de nós, seja um culto aos ancestrais, seja uma homenagem a um herói da pátria, nem sempre tem uma relação direta com o passado. Como mostramos nesta edição, em reportagem da jornalista Vivi Fernandes de Lima, a eleição dos nossos grandes personagens históricos atende sempre a necessidades do presente. Tanto que as novas gerações de brasileiros nem sempre reconhecem a figura de Tiradentes, imagem heroica usada para consolidar a República, mas apontam um líder transformado em ícone pop, o argentino Che Guevara.
Embora esses homens de relevo subam e desçam periodicamente na preferência nacional, seus feitos são cada vez mais expostos pelos novos estudos. Neste número, o general Abreu e Lima, em texto de Paulo Santos de Oliveira, aparece não só como o companheiro do “Libertador” Simón Bolívar, mas como um defensor de ideias que remavam contra a maré durante o Império. João Cândido, o “Almirante Negro” da Revolta da Chibata, que recentemente vem escalando nosso panteão de heróis, tem novos detalhes da sua vida revelados em texto de Álvaro Nascimento.
História feita, portanto, é história desfeita. Nei Lopes, no especial Candomblé, desfaz um pouco do que sabíamos sobre este elemento da nossa cultura e mostra que a influência da tradição angola na religião afro-brasileira é mais importante do que se supõe. João Paulo Pimenta, por sua vez, indica que ainda é preciso fazer a história da Província Cisplatina – região disputada pela Argentina e pelo Brasil, virou o Uruguai e teve parte da sua memória engolida pelo buraco negro do esquecimento.
Gente que sobe, gente que desce, passado que morre e passado que renasce. Nesta edição, a RHBN está pautada por uma das principais características da História: a de ser viva.
Carta do Editor - Nº 62
Luciano Figueiredo