Quem leva a sério previsões que anunciam o fim do mundo e o nascimento de uma nova era, marcada pela comunhão em um tempo de bem-aventurança? Muitos de nós, pelo que sugere o calendário no mês de dezembro.
Mas houve quem se decepcionasse com profecias desse tipo. O compositor Assis Valente não perdeu a chance de provocar o assunto no samba “O mundo não se acabou”, lançado em 1938 por Carmen Miranda: “Acreditei nessa conversa mole (...) e sem demora fui tratando de aproveitar”. A inspiração veio de rumores sobre uma possível colisão de um cometa com a Terra. Com bom humor, a letra conta que ele não perdeu tempo e realizou todos os seus desejos. O problema é que a fatídica previsão não se confirmou. “Vai ter barulho, vai ter confusão porque o mundo não se acabou” encerra o samba, prevendo a fatura a ser paga por causa de sua crendice.
Também levamos o assunto a sério. Mas sem talento para o samba, o jeito foi narrar algumas histórias de profecias. Monges previam calamidades em Santa Catarina, o padre Vieira acreditava que a Amazônia seria o centro de um novo reinado, numa época em que visionários eram condenados pela Inquisição. No Rio do século XX, surge Gentileza, um profeta em plena metrópole que hoje tem seu lema estampado em camisetas: “Gentileza gera gentileza”, um verdadeiro slogan, capaz de causar inveja a muitos publicitários. Já Antônio Conselheiro tinha jeito e cara de profeta, mas nunca se apresentou dessa forma. A antropóloga Manuela Carneiro da Cunha apresenta o movimento messiânico dos índios canelas, do Maranhão, a partir da história de uma profetisa que demonstrava poderes ainda no ventre da mãe.
Mas isso não é tudo: ainda precisamos passar por 2012... Se nos frustrarmos como Assis Valente, pelo menos estamos preparados para o barulho e para a confusão.
Carta do Editor - Nº 63
Luciano Figueiredo